BPN: a realidade ultrapassa a ficção António Vilarigues
O BPN tem neste momento 700 milhões de euros de
prejuízos. Mas em 2007 teve resultados positivos de
77 milhões
Em seis semanas sucederam-se a um ritmo vertiginoso
as notícias sobre o "caso BPN". Por mim confesso que
a realidade tem, de longe, superado tudo o que
pudesse imaginar. Dava para argumento de uma série.
Não há por aí produtoras interessadas?
Temos de tudo: um banco com órgãos sociais saídos do
bloco central do poder, com predominância para o PSD.
Rotatividade anormal e excessiva dos mesmos.
Accionistas desconhecidos. Auditoras - que mudam
quase de dois em dois anos -, que referenciam
negócios cujo contributo para os resultados do banco
era difícil de detectar e que vão de oficinas de
reparação automóvel, passando pela saúde, seguros,
agro-alimentar e até fundos de arte. Auditoras que
alertam para a excessiva concentração de créditos
concedidos a empresas imobiliárias e com projectos
em construção, algumas ligadas a accionistas do
grupo. O Banco de Portugal tem seis processos
abertos e admite agora que as irregularidades
remontam ao ano 2002. A Procuradoria-Geral da
República está a investigar o banco.
Um banco que apresenta, a 30 de Outubro de 2008, 700
milhões de euros de prejuízos. Mas que, em 2007,
reportou resultados positivos de 77 milhões de euros
e, em 2006, de 86 milhões de euros. Um banco que
manteve anos a fio taxas de remuneração de depósitos
bastante acima da concorrência. Que guarda várias
obras de arte no valor de milhões e milhões de euros
nos seus cofres-fortes. Mas que motivou ao longo dos
anos sucessivos avisos e denúncias sobre a sua
eventual associação ao branqueamento de capitais.
Um banco aparentemente não fiscalizado em condições
por quem de direito: o Banco de Portugal, presidido
pelo "funcionário mais bem pago do Estado Português"
(Vítor Constâncio ganha, anualmente, 281.804,83
euros). Um banco onde administradores executivos e
não-executivos, bem como membros dos órgãos sociais,
nada viam, nada ouviam, nada liam, logo nada sabiam.
Uns incompetentes estranhamente assumidos na
primeira pessoa. Apetece perguntar: eram pagos pelos
accionistas, a peso de ouro, para serem assim?
"Caso BPN" que atinge um ex-ministro e actual
conselheiro de Estado, que afirma que quando saiu da
política não tinha dinheiro nenhum - o que é
manifestamente um exagero. E que nos revelou a todos
o segredo da sua fortuna: "Geri dinheiro com
parcimónia, com sensatez." Deve ser por isso que em
1991 comprou e remodelou uma vivenda, no Estoril,
por 150 mil contos - dinheiro proveniente de uma
herança e venda de propriedades em Coimbra. Antes
havia a casa de Sete Rios, comprada por 9600 contos.
Depois a nova casa na Quinta Patiño, no Estoril, uma
das zonas mais privilegiadas e caras do país (diz-se
que cada metro quadrado de terreno custa 5 mil euros).
Previdente, quando o BPN explodiu, Dias Loureiro já
tinha saído e levado consigo todo o dinheiro que
havia investido no banco. "Caso BPN" onde o
Presidente da República entende elaborar um
comunicado por não poder "tolerar a continuação de
mentiras e insinuações visando pôr em causa o [seu]
bom-nome".
"Caso BPN" onde se fala de um banco de Cabo Verde.
De 130 milhões de euros correspondentes à venda de
uma empresa no Brasil. De ligações que chegariam a
deputados do PSD-Madeira. De membros da comissão
política nacional do PSD que se demitiram por não
quererem que avançasse a fiscalização da supervisão
bancária. De contributos para campanhas eleitorais.
De uma ida às corridas a Inglaterra com escala a
leste para recolher prostitutas, tudo pago pelo BPN.
De reuniões em casas de alterne. De compras de
empresas de valor duvidoso em Porto Rico. De Abdul
Rahman El-Assir, referenciado como traficante de
armas, acusado de estar ligado ao narcotráfico
mundial. E de tudo o que mais adiante se verá. Todos
os dados foram retirados de jornais, revistas,
rádios e televisões de Portugal. Especialista em
sistemas de comunicação e informação