Diário de Notícias - 05 Dez 08

 

Em seis anos partos prematuros crescem 45%
Diana Mendes
Hernâni Pereira

 

Saúde neonatal. De 2001 para 2007, o número de bebés nascidos antes do tempo aumentou 45%, passando de 6069 para 8801, ou seja, mais 2732. Uma tendência que é um sinal dos tempos. Gravidezes tardias e o recurso a técnicas de tratamento da infertilidade são duas razões para o aumento

 

Em apenas seis anos, o número de bebés que nasceram prematuros cresceu 45%, passando de 6069 em 2001 para 8801 em 2007, ou seja, mais 2732 gravidezes pré-termo. Os dados do INE mostram a tendência de subida, o que contraria os objectivos estipulados no Plano Nacional de Saúde. A meta para 2010 era de 4,9%, mas, em 2007, a taxa de nascimentos prematuros foi de 9,1%. A alta- -comissária da Saúde, Maria do Céu Machado, disse ao DN que "as metas vão ser revistas. O objectivo de baixar não é real".

 

O número de nascimentos prematuros (antes das 37 semanas) está a subir há anos. Só entre 2005 e 2007 o incremento foi de 37%, ou seja, se há três anos nasceram 6814 prematuros, no ano passado registaram-se 8801 casos.

 

Maria do Céu Machado explicou as razões para este fenómeno, destacando o papel da procriação medicamente assistida (PMA), grupo de técnicas de tratamento da infertilidade. "Nascem mais gémeos na sequência da PMA, o que aumenta o risco de partos prematuros."

 

A idade em que as mulheres têm filhos também é mais avançada, "aumentando o risco de gravidez e de a mulher ter outras patologias". Há mais abortos espontâneos mas também dos provocados, quando há risco para a mãe ou para o bebé.

 

Jorge Branco, presidente da Comissão Nacional de Saúde Materna e Neonatal, refere também que "as mulheres têm mais stress e que as condições de trabalho difíceis aumentam o seu sofrimento físico. O útero torna-se mais reactivo, desencadeando reacções que põem em risco a gravidez".

 

Outros factores, nomeadamente genéticos, podem influir na prematuridade, nomeadamente na população africana (ver caixa), mas a evolução da ciência e dos cuidados neonatais também permite "garantir a sobrevivência de bebés com 23, 24 semanas", frisa Maria do Céu Machado. A maior parte destes factores é sinal da vida em sociedade. "Não tenho ilusões de que a situação vá melhorar. No próximo plano temos de discutir vários indicadores como este ou como o aumento de gravidezes acima dos 35 anos. Não é possível prevenir situações que dependem da mulher."

 

Remédio pouco utilizado

 

O único medicamento licenciado para as ameaças de parto pré-termo nem sempre é o escolhido para tratar o problema. De acordo com Isabel Santos Silva, médica da Maternidade Bissaya Barreto (Coimbra), "há hospitais que não o usam, ou que o usam menos do que deviam". O fármaco tem menos efeitos adversos nas mulheres do que os utilizados anteriormente, "e que nem estavam testados para tratar este problema". Lá fora "até houve complicações graves e mortes, embora aqui só se tenham registado situações de dor de cabeça e desmaios", por exemplo. O elevado custo - cerca de 350 euros contra os dez do remédio utilizado anteriormente - é uma das razões que a médica aponta para o menor uso. Além disso, é um remédio injectável (mais invasivo). E aplica- -se aos casos de parto pré-termo espontâneo