Portugueses dependentes dos
psicofármacos
Paula Carmo
Psiquiatra de Coimbra alerta para o
perigo de uma sociedade 'light'
Mais de 60% dos utentes dos centros de saúde
analisados num estudo do Observatório Nacional de
Saúde foram considerados dependentes de, pelo menos,
um medicamento do foro psiquiátrico. Os
tranquilizantes (benzodiazepinas) foram os
psicofármacos (indicados para a ansiedade, para
dormir ou para a depressão) mais vezes prescritos
aos utentes. Estes números espelham vidas. Pessoas.
Gente que suporta diferentes níveis de
desequilíbrios.
Segundo o psiquiatra João Redondo,
de uma das unidades do Centro Hospitalar
Psiquiátrico de Coimbra, "há vários olhares sobre o
uso dos fármacos", na qual, em seu entender, "não se
pode esquecer que o medicamento alivia o sofrimento
imediato". Mas a prescrição deve, também, diz o
psiquiatra, "ser acompanhada por um psicoterapeuta".
Mas porque tomam os portugueses
tantos medicamentos do foro psiquiátrico? João
Redondo invoca "a exclusão, a violência, a solidão",
diz. A multiplicidade de formatos das relações
sociais e íntimas, as diferentes visões para o
desempenho do trabalho e lazer devem "permitir
equilíbrios" que, diz, "nem sempre são fáceis". E dá
como exemplo o tempo, de quem mora em grandes
aglomerados urbanos, para chegar ao local de
trabalho e, depois dele, a casa. "As pessoas têm
mais tempo para os desencontros do que para os
encontros", alerta. E chama a atenção para aquilo a
que designa de sociedade light: "Hoje temos de ser
belos, magros, sorridentes. O sofrimento é uma
palavra proibida, claro que nada é assim", adverte
João Redondo.