Diário de Notícias - 14 Dez 07

Portugueses dependentes dos psicofármacos
Paula Carmo

Psiquiatra de Coimbra alerta para o perigo de uma sociedade 'light'
Mais de 60% dos utentes dos centros de saúde analisados num estudo do Observatório Nacional de Saúde foram considerados dependentes de, pelo menos, um medicamento do foro psiquiátrico. Os tranquilizantes (benzodiazepinas) foram os psicofármacos (indicados para a ansiedade, para dormir ou para a depressão) mais vezes prescritos aos utentes. Estes números espelham vidas. Pessoas. Gente que suporta diferentes níveis de desequilíbrios.

Segundo o psiquiatra João Redondo, de uma das unidades do Centro Hospitalar Psiquiátrico de Coimbra, "há vários olhares sobre o uso dos fármacos", na qual, em seu entender, "não se pode esquecer que o medicamento alivia o sofrimento imediato". Mas a prescrição deve, também, diz o psiquiatra, "ser acompanhada por um psicoterapeuta".

Mas porque tomam os portugueses tantos medicamentos do foro psiquiátrico? João Redondo invoca "a exclusão, a violência, a solidão", diz. A multiplicidade de formatos das relações sociais e íntimas, as diferentes visões para o desempenho do trabalho e lazer devem "permitir equilíbrios" que, diz, "nem sempre são fáceis". E dá como exemplo o tempo, de quem mora em grandes aglomerados urbanos, para chegar ao local de trabalho e, depois dele, a casa. "As pessoas têm mais tempo para os desencontros do que para os encontros", alerta. E chama a atenção para aquilo a que designa de sociedade light: "Hoje temos de ser belos, magros, sorridentes. O sofrimento é uma palavra proibida, claro que nada é assim", adverte João Redondo.