Movimento Não Obrigada vai mostrar vídeo de
coração de bebé a bater
O movimento Não Obrigada, a favor do "não" no
referendo sobre o aborto, afirmou ontem que "a
ciência" está do seu lado e que "por volta do
vigésimo dia" de gestação "o coração de um bebé já
bate". Para reforçar esta convicção, três médicos
que integram o movimento revelaram aos jornalistas
um vídeo de uma ecografia tridimensional de um feto
com oito, nove e dez semanas.
De acordo com João Paulo Malta,
ginecologista-obstetra, presidente da Comissão de
Ética do Hospital das Descobertas, as imagens em
causa serão tornadas públicas "o mais possível".
"Quanto mais as imagens forem mostradas, maior o
esclarecimento", referiu, em conferência de
imprensa.
Outros dois médicos procuraram também demonstrar, na
mesma sessão, "razões científicas para dizer "não" à
liberalização do aborto". Fernando Maymone Martins,
director do serviço de cardiologia pediátrica do
Hospital de Santa Cruz, salientou que, "pela décima
semana, o coração já tem características
praticamente idênticas" às do de um adulto, com
aurículas e ventrículos constituídos.
O médico acrescentou que "ninguém na comunidade
científica" questiona esta "evidência".
O movimento Não Obrigada sublinha ainda que, pela
mesma altura, "o bebé pesa 14 gramas, mede 6
centímetros, tem olhos, nariz, lábios, dedos" e as
impressões digitais "que terá durante toda a vida".
José Ferreira Martins, por sua vez, também
cardiologista pediátrico, relevou o facto de às dez
semanas de gestação o sistema cardiovascular estar
completamente desenvolvido, contando-se 175
pulsações por minuto. O médico concluiu por isso
que, nos dez minutos que durou a conferência de
imprensa, ele teria batido 1750 vezes.
"O progresso e a evolução da ciência, os meios e
equipamentos de observação e diagnóstico clínico
permitem hoje um conhecimento e acompanhamento do
desenvolvimento do bebé no seio materno", diz o
movimento Não Obrigada, justificando as teses
apresentadas.
Questionado sobre a tese avançada por outros
clínicos de que, às dez semanas, o sistema nervoso
central ainda não está constituído, não havendo por
isso ainda dor, Fernando Martins afirmou que "não é
muito seguro" que assim seja, desvalorizando em todo
o caso esse argumento. R.D.F