Público - 21 Dez 06

 

Movimento Não Obrigada vai mostrar vídeo de coração de bebé a bater

 

O movimento Não Obrigada, a favor do "não" no referendo sobre o aborto, afirmou ontem que "a ciência" está do seu lado e que "por volta do vigésimo dia" de gestação "o coração de um bebé já bate". Para reforçar esta convicção, três médicos que integram o movimento revelaram aos jornalistas um vídeo de uma ecografia tridimensional de um feto com oito, nove e dez semanas.
De acordo com João Paulo Malta, ginecologista-obstetra, presidente da Comissão de Ética do Hospital das Descobertas, as imagens em causa serão tornadas públicas "o mais possível". "Quanto mais as imagens forem mostradas, maior o esclarecimento", referiu, em conferência de imprensa.
Outros dois médicos procuraram também demonstrar, na mesma sessão, "razões científicas para dizer "não" à liberalização do aborto". Fernando Maymone Martins, director do serviço de cardiologia pediátrica do Hospital de Santa Cruz, salientou que, "pela décima semana, o coração já tem características praticamente idênticas" às do de um adulto, com aurículas e ventrículos constituídos.
O médico acrescentou que "ninguém na comunidade científica" questiona esta "evidência".
O movimento Não Obrigada sublinha ainda que, pela mesma altura, "o bebé pesa 14 gramas, mede 6 centímetros, tem olhos, nariz, lábios, dedos" e as impressões digitais "que terá durante toda a vida".
José Ferreira Martins, por sua vez, também cardiologista pediátrico, relevou o facto de às dez semanas de gestação o sistema cardiovascular estar completamente desenvolvido, contando-se 175 pulsações por minuto. O médico concluiu por isso que, nos dez minutos que durou a conferência de imprensa, ele teria batido 1750 vezes.
"O progresso e a evolução da ciência, os meios e equipamentos de observação e diagnóstico clínico permitem hoje um conhecimento e acompanhamento do desenvolvimento do bebé no seio materno", diz o movimento Não Obrigada, justificando as teses apresentadas.
Questionado sobre a tese avançada por outros clínicos de que, às dez semanas, o sistema nervoso central ainda não está constituído, não havendo por isso ainda dor, Fernando Martins afirmou que "não é muito seguro" que assim seja, desvalorizando em todo o caso esse argumento. R.D.F