Primeiro o orçamento e o dinheiro (abortos
incluídos) e depois as pessoas doentes... que
esperem (mesmo que isso lhes retire perspectivas de
cura)
Oano de 2006 foi fértil em
decisões (e indecisões...) por parte do Ministério
da Saúde. Gostaria de referir uma, que considero
particularmente greve num Ministério da Saúde. O
apoio do ministro da Saúde (ou da morte?) ao
assassínio de fetos até às dez semanas (eufemisticamente
designado por interrupção voluntária da gravidez,
para que não cause repulsa aos espíritos mais
sensíveis e para quem a palavra aborto é já
demasiado chocante...).
Refiro-me à sua afirmação de que, para além de
apoiar a realização de abortos (que ninguém
cientificamente honesto pode negar ser a morte
deliberada de seres humanos em desenvolvimento), nos
hospitais públicos, também está disposto a subsidiar
o pagamento de abortos em clínicas privadas
(evidentemente com o dinheiro dos nossos impostos e
em época de contenção orçamental...). Aliás, a
comunicação social, nomeadamente a televisão, já
mostrou o interesse comercial de grupos espanhóis e
ingleses em entrarem no mercado... em Portugal, face
às perspectivas abertas pelo senhor ministro da
Saúde. E não se pode esquecer que o aborto pode ser
um grande negócio, sobretudo para pessoas com menos
escrúpulos (infelizmente, algumas até licenciadas em
Medicina)..
O feto tem origem no pai e na mãe e não pertence à
"barriga" desta! Tem individualidade bem própria,
com o seu ADN específico e diferente. Na célula (o
ovócito), resultante da fusão dos 23 cromossomas de
cada progenitor, já estão os genes que definirão
todas as nossas características (a cor dos olhos,
estatura, longevidade, etc.). E, se lhe forem dadas
condições (implantação no útero), irá desenvolver-se
como qualquer outra pessoa: nascer, tornar-se
criança, adolescente e adulto e finalmente morrer,
completando o ciclo da vida.
Seguramente o senhor ministro sabe que há listas de
espera para o tratamento do cancro, nomeadamente no
caso do cancro da mulher (mama, útero, etc.). Mas
não se lhe ouviu dizer que iria tomar a mesma
atitude nestes casos. Bem pelo contrário: sabe-se
que recomendou às administrações dos hospitais que,
para não excederem os orçamentos, não deveriam este
ano aumentar a sua produtividade! Ou seja, não
tratar mais doentes que no ano anterior! Primeiro o
orçamento e o dinheiro (abortos incluídos) e depois
as pessoas doentes... que esperem (mesmo que isso
lhes retire perspectivas de cura)!
Hoje em dia a informação é abundante e todos sabem
como surge uma gravidez. Porquê pois pagar o senhor
ministro para anular as consequências de um acto
voluntário e deixar de lado a doença de que as
pessoas são vítimas? Quais as prioridades para ele e
para o Governo?
O juramento de Hipócrates e a sua versão moderna, a
Declaração de Genebra da Associação Médica Mundial,
bem como o Código Deontológico da Ordem dos
Médicos), são claros ao repudiar o aborto, fora dos
casos (aliás, pouco frequentes) do aborto
terapêutico (em que está em causa o dilema da
escolha entre duas vidas e em que apenas uma pode
ser salva).
É verdade que há (felizmente poucos) licenciados em
Medicina que também são favoráveis à liberalização
do aborto e a votar "sim" no futuro referendo de 11
de Fevereiro. Esses ou não fizeram no fim do curso o
juramento de Hipócrates, ou já o esqueceram! Fica
assim explicada a posição de um economista, que,
apesar de ministro da Saúde, defende a morte dos
fetos, até às dez semanas, sem outra razão que não
seja a vontade da mulher.
Na verdade, só aqueles que respeitam a sua ética
profissional se poderão considerar verdadeiramente
médicos. E esses não deverão manter-se alheios ao
referendo. Não basta que votem "não": importa que
esclareçam todos aqueles com quem contactam,
dando-lhes a conhecer a evidência científica e quais
os valores civilizacionais em causa. Só assim
cumprirão cabalmente a sua missão. Ex-presidente da
Ordem dos Médicos e da Associação Médica Mundial e
da sua comissão de ética