Diário de Notícias - 06
Dez 06
Movimento do
'não' junta nomes do PS, PSD e CDS
Joana Pereira
No ecrã, uma mulher grávida, indecisa e confusa faz
uma ecografia, enquanto a seu lado o futuro filho
canta: "Se eu pudesse falar dir-te-ia: 'Posso
viver?'" No final, a mãe decide ter o filho e
esboça um sorriso. O videoclip do rapper
norte-americano Nick Cannon, que encerrou o
lançamento da Plataforma Não Obrigada (PNO), ilustra
a mensagem que os mandatários do movimento pretendem
transmitir durante a campanha para o referendo de 11
de Fevereiro. "Este bebé tem o direito à vida, está
a lutar por ele mesmo", afirmou a psiquiatra
Margarida Neto, mandatária da PNO.
Assumindo-se como uma "plataforma apartidária, não
confessional, plural e diversificada", a PNO
congrega personalidades de vários quadrantes. Na
lista de mandatários constam Maria José Nogueira
Pinto e Bagão Félix, da área do CDS, a
social-democrata Zita Seabra e Teresa Venda,
deputada independente do PS, entre outros nomes,
como o médico Gentil Martins, o politólogo Nuno
Rogeiro e a actriz Ana Brito e Cunha. "É uma
plataforma muito abrangente que, no entanto,
consegue juntar pessoas que têm duas coisas em
comum: por um lado, estão contra a liberalização
total do aborto e, por outro, são contra a
partidarização da campanha para a consulta popular",
declarou o obstetra e ginecologista João Paulo
Malta.
Apesar de considerarem que "o povo português já fez
saber a sua vontade em 1998", os mandatários
concordam que, desde essa altura, se verificaram
algumas transformações na sociedade. Mas mesmo essas
vão no sentido de uma declaração de voto negativa na
consulta popular, uma vez que a crescente capacidade
técnica permite acompanhar o de-senvolvimento do
feto e do embrião. "Não acredito que não haja mulher
alguma que, ao sentir um coração a bater ou ao ver
uma mão a mexer, não diga 'que lindo é o meu bebé'",
afirmou o médico.
"O aborto vai de tal forma contra a natureza da
mulher que o trauma que daí resulta não tem nada a
ver com o aborto clandestino, mas com a ambivalência
e a angústia que advêm dessa decisão", defendeu
Margarida Neto. Mas a posição mais aplaudida veio de
Isabel Galriça Neto, especialista em cuidados
paliativos, que se opôs de forma veemente à prática
do aborto no Sistema Nacional de Saúde (SNS) e em
clínicas privadas. "Lançamos o repto aos
responsáveis do SNS e do País que, quando o 'não'
ganhar, em Fevereiro, as verbas orçamentais
destinadas ao financiamento de clínicas privadas
espanholas sejam gastas a apoiar as mulheres que
decidam ter os seus filhos", desafiou aquela médica.
As posições dos oradores, muito aplaudidas pela
plateia que lotou o auditório do Centro de
Congressos de Lisboa, foram subscritas por Maria
José Nogueira Pinto. Ao DN, a vereadora lisboeta
assumiu estar "do lado daqueles que não têm voz".
Também Matilde Sousa Franco, deputada do PS, disse
que o aborto é "algo abominável, que não pode ser
visto como um contraceptivo".