Público- 04
Dez 06
Em Portugal até saiu legislação sobre o formato
dos cacifos nas escolas...
Totobola
A figura dos directores de escola pode ajudar à
melhoria do sistema educativo?
Creio que sim. É preciso dotar o sistema de
condições de governabilidade. Isso implica mais
autonomia e mais liberdade para a escola, mas também
mais responsabilidade. Ora, isso implica uma cabeça
que seja particularmente responsável e
responsabilizável e essa cabeça não pode depender da
eleição dos seus colegas professores, como sucede
hoje. É impensável. Somos o único país do mundo em
que a cabeça da escola depende do voto dos colegas.
Quem deveria então escolher os directores?
Primeiro deveríamos criar uma carreira de
profissionais docentes com mais aptidões de gestão,
dignificá-la, retribuí-la muito melhor do que hoje,
e, com esses mil directores disponíveis, a
assembleia da escola, que deve integrar os que
participam na vida da escola, escolheria o director
que melhor lhe servisse. Professores, pais,
autarquia, quem se quisesse envolver assumindo
compromissos. Fazendo-o dizendo: eu, Misericórdia,
vou fazer isto; eu, empresário, vou fazer isto. Isso
permitiria encontrar o melhor líder para liderar o
projecto definido colectivamente.
No limite, quase nem necessitávamos da "5 de
Outubro"...
Quase, e por isso é que disse que temos de refazer
drasticamente todo o modelo. O que é impensável é
ter 3000 funcionários a entrar nas escolas para
verificar cegamente normas. Nós acabámos de
legislar, em Outubro, sobre os cacifos das escolas.
Assim é impossível.
O estatuto da carreira docente vai nessa direcção?
Vai nessa direcção tudo o que implicar avaliação,
exigência, cumprir objectivos. Tem é de estar
articulado com todas as outras dinâmicas.
E o prolongamento de horários?
É uma consequência da sociedade em que vivemos, mas
reforça a tendência para dar à escola uma componente
ainda mais relevante, permitir que funcionem nuns
casos como espaços educativos relevantes, enquanto
noutros se trata de ficar apenas a guardar os
meninos. O prolongamento de horários pode fazer
sentido, mas temos é que fazer tudo numa lógica de
confiança, numa lógica de explicação e de
envolvimento das escolas.