Diário de Notícias -
02 Dez 06
Substituição é
regra nos países desenvolvidos
Trabalho extra é
pago
Pedro Sousa Tavares
Uma aula sem professor? Sem substituto? Mas isso é
impensável!" A expressão de espanto provém de um
técnico do Ministerio Della Publica Istruzione, o
equivalente italiano do Ministério da Educação,
quando lhe explicamos que, até há bem pouco tempo,
quando um docente português faltava às aulas os
alunos tinham um "furo".
Em Portugal, as actividades de substituição
dedicadas aos alunos - que se têm resumido
essencialmente às aulas de substituição - só existem
desde o final de 2005, e são ainda um conceito
polémico. Os estudantes organizam manifestações e
greves. Muitos professores questionam a sua
utilidade, pelo menos nos moldes actuais.
Porém, como comprovou o DN, em países como a
Espanha, Itália e Irlanda, deixar uma turma entregue
a si própria quando um professor falta é uma ideia
considerada, no mínimo, inconcebível. E há muito que
existem soluções para o evitar.
"Do ponto de vista penal e administrativo, os
professores são responsáveis pelo que se passa com
os seus alunos no tempo de aulas", explica o
italiano, que pede para ser identificado como fonte
do ministério. "Desde que chegam à escola até ao
momento em que saem, os alunos devem ser seguidos.
Quer pelos professores, nas aulas, quer pelos
administrativos." Uma regra que se aplica "até aos
18 anos".
Este princípio é universal nos casos verificados
pelo DN. A forma como é garantido é muito
diversificada, mas há um estímulo comum, que
Portugal ainda não implementou: o trabalho extra é
quase sempre pago.
Em Espanha, explica Joaquin Ortega, do Ministerio de
Educación, Cultura e Deporte, "as faltas inferiores
a uma semana de duração são resolvidas pela própria
escola". Não necessariamente recorrendo a aulas de
substituição: "Se um professor estiver doente dois
ou três dias, os alunos ficam sem aulas, mas é
programada outra actividade", conta.
Para ausências mais prolongadas, existe uma bolsa
pública de docentes, que podem ser chamados a
qualquer momento para substituir um colega. "Para se
ser professor da escola pública é preciso passar num
exame chamado oposicíon", explica. "Se fores
aprovado, tornas-te funcionário do Estado. Se não
passares no exame, dependendo da nota obtida,
tornas-te professor interino. Estes professores
integram a lista regionais de substitutos que podem
ser chamados." Os interinos recebem um salário
anual, "ligeiramente inferior aos dos funcionários".
Na Irlanda, conta Conor Griffin, da Teachers Union
of Ireland (um sindicato deprofessores), as
substituições são asseguradas por todos os
professores. No entanto, ninguém é obrigado a
fazê-lo. E todas as aulas extra são pagas.
"É uma solução que está a ser aplicada há dois ou
três anos", explica. "O sistema é opcional, mas a
maioria acaba por aderir. Cada professor pode dar um
máximo de 37 horas de substituição, uma a duas horas
por semana."
Em Portugal, o Ministério da Educação propõe aos
professores faltosos que compensem as ausências
dando aulas de substituição. Na Irlanda, diz Griffin,
a grande discussão do momento é saber "se o
substitutos devem receber as 37 horas mesmo que
faltem a algumas aulas por doença".
O modelo italiano é mais exigente: "A escola é
obrigada a assegurar a substituição quando a
ausência é inferior a 15 dias", explica o
responsável deste país. No entanto, "os professores
são pagos por todas as aulas dadas para além do
horário lectivo semanal, que é de 18 horas".
Outros países desenvolvidos, como os Estados Unidos,
optam por soluções de trabalho temporário, com os
substitutos inscritos em bases de dados a que as
escolas acedem em função das suas necessidades.