Expresso - 10 Dez 05

Editorial

«A fraca natalidade é uma hipoteca sobre a Europa.»

Vítor Rainho

 

Quando a chuva não aparece e a seca vai tomando conta das albufeiras, o alarme toca todos os dias. A comunicação social não pára de dar explicações para a falta de água, os especialistas dizem que daqui a meia dúzia de anos as torneiras vão estar secas, e vive-se o Verão nessa angústia. Para piorar as coisas, o país arde sem dó nem piedade. As pessoas chegam a questionar-se se ainda existe alguma mata para queimar. Quando a chuva aparece em força, o discurso do imediatismo leva-nos logo para o perigo das cheias. Debates e mais debates falam da fúria das tempestades e da força da natureza. Quer numa como noutra matéria, há opiniões divergentes. Uns acreditam na força da natureza; outros crêem que os homens tudo farão para destruir o meio ambiente.

Há poucos anos, o debate sobre a natalidade estava na ordem do dia. A população mundial não parava de aumentar e temia-se que não existisse espaço para tantas criaturas. Entretanto, os países desenvolveram-se e no mundo ocidental, mais concretamente na Europa, os casais optaram por ter menos filhos. Hoje, os relatórios das Nações Unidas dizem que em 2050 a população europeia será inferior à da actualidade. Os peritos vão mais longe e acreditam que à medida que os países subdesenvolvidos melhorarem as condições de vida, a população tenderá a fazer menos filhos. Isto é: o progresso é inimigo da natalidade. O que é um facto é que a Europa está envelhecida e os países asiáticos e africanos têm muitos mais filhos. Como será nas próximas décadas?

Não deixa de ser curioso que em nome do progresso se hipoteque o futuro das próximas gerações. A concorrência desenfreada no trabalho e o egoísmo das pessoas contribuiu para este estado de coisas («»). Os governos querem dar incentivos à natalidade. Será por aí o caminho? A escravatura do mundo moderno tem destas coisas.

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