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- 13 Dez 04 Simpósio sobre a
fecundação assistida no Campus Bio-Médico de Roma
“A fecundação assistida. Aspectos médicos,
jurídicos e éticos”. Este foi o tema do primeiro simpósio nacional
de estudantes de medicina celebrado em Outubro na Universidade
Campus Bio-médico, de Roma.
O Parlamento italiano aprovou no passado 12 de
Fevereiro uma nova lei sobre fecundação assistida. No artigo
introduz-se pela primeira vez o conceito de “tutela jurídica do
embrião”, com fortes consequências médicas e éticas. Paradoxalmente,
encontra os seus precedentes em países europeus de cultura
decididamente laica. Recordou-o Carlo Casini, parlamentar europeu:
“Na laica Hungria – actualmente o país mais livre e culto que esteve
sob o jugo comunista –, numa sentença de 1991 em relação com o
aborto assinala-se que ‘o conceito jurídico de homem deveria ser
estendido à fase pré-natal, concretamente ao momento da concepção’.
Uma afirmação que pela sua natureza e alcance pode ser comparável à
abolição da escravatura”.
“A fecundação assistida. Aspectos médicos, jurídicos e éticos” foi o
tema do primeiro simpósio nacional de estudantes de medicina e
cirurgia que teve lugar na Universidade Campus Bio-Médico, de Roma,
de 15 a 17 de Outubro: um encontro de três dias dirigidos a
estudantes universitários que desejam ir mais além da formação
técnica e académica, uma ocasião de diálogo entre futuros médicos
conscientes de que um dia na sua profissão também terão que resolver
problemas não directamente relacionados com a actividade sanitária.
Um destes âmbitos nos quais a medicina joga a sua própria
auto-compreensão, e como consequência também a sua resposta aos
desafios éticos do dia de amanhã, é no mundo da ficção televisiva.
Na actualidade, as cadeias de televisão centram a sua atenção nos
problemas da vida social, médicos principalmente, abordados muitas
vezes sem critérios claros. Tão pouco o grande tema da família é
tratado dentro das coordenadas éticas bem definidas, mais ainda, em
muitos programas a família é sistematicamente mal tratada. No
contexto médico, as séries televisivas assumem particular
importância, explicou Paolo Braga, professor de Teoria e Técnicas de
comunicação de massas na Universidade Católica de Milão. “A ficção
põe em movimento – diz – um mecanismo emotivo no qual o espectador
fica implicado. O seu ponto focal está na construção de personagens
de carácter informal, fragmentado e problemático. Os guionistas
americanos são mestres na construção deste tipo de figuras que
ganham facilmente a simpatia do espectador. Trata-se de histórias e
personagens frequentemente longínquas dos casos reais e que não
sempre enfrentam, de modo correcto, argumentos delicados. O êxito de
produtos televisivos como “E.R. Médicos na primeira linha” ou
“Friends” é uma prova das graves implicações éticas do trabalho dum
guionista”.
Nestes três dias de reflexão universitária, pôs-se também em
evidência a urgência de abordar temas de metabioética, “capazes de
fundamentar todos os desafios bioéticos sucessivos e, entre estes, o
da fecundação assistida”, assinalou em diversas ocasiões Ignacio
Carrasco, professor Catedrático de Bioética na Universidade Sacro
Cuore de Roma. “O problema da fecundação assistida não está na
técnica em si, mas na dificuldade ética que reside na vontade de
quem aplica esta técnica ao ser humano”. Este género de formulações
metabioéticos, explicou, ajudam a desembaraçar o nó original do
problema.
As perguntas que surgem perante os casos concretos que se apresentam
podem ser resolvidas através de uma redefinição da relação entre
homem e natureza. Cláudio Bucelli, professor Catedrático de Medicina
Jurídica na Universidade Frederico II de Nápoles, afirmou que “é
necessário trabalhar na recuperação do que é natural no homem,
precisamente nos laboratórios, hospitais e outros lugares onde se
estão a levar a cabo projectos que afastam o ser humano da natureza
e, consequentemente, da sua condição original, das suas leis
próprias, estabelecidas no projecto da criação”.
Num dos debates que teve lugar no último dia conclui-se que a
investigação médica, longe de ter que estar continuamente “a tapar
buracos” diante de problemas individuais, necessita encontrar um
fundamento antropológico que ilumine a legislação e sobre o qual se
possa construir uma nova cultura da vida humana. A antropologia,
para se possa fundamentar validamente uma ética da vida, deverá
conter uma verdade objectiva sobre o homem.
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