Público - 9 Dez 04
Na Cauda
do Pelotão
O último
estudo da OCDE sobre educação confirma como estamos mal - e como
pouco fazemos para melhorar
O estudo da OCDE conhecido por PISA, que avalia e
compara as competências de jovens de 15 anos nas áreas da leitura,
da matemática e das ciências, que divulgámos terça-feira, não trouxe
grandes surpresas. Na cauda das tabelas continuam a Turquia e o
México, estando Portugal muito próximo e acompanhado quase sempre
por países do Sul da Europa (Itália, Grécia e também Espanha). No
outro extremo da tabela encontramos, de novo em primeiro lugar, a
Finlândia, tendo regra geral lugar de destaque o Japão, a Coreia, a
Holanda, o Canadá e a Austrália.
Se o mau lugar de Portugal, sobretudo a ciências,
não surpreende, não deixa de ser estranho que o que este estudo
revela seja o mesmo que atestavam os anteriores e pouco ou nada
tenha sido feito para mudar a situação. Importa por isso olhar para
os países com mais sucesso e tentar perceber o que fazem melhor do
que nós. Talvez começando pela europeia Finlândia.
Associando o que diz a OCDE, uma intervenção do
director do projecto, Andreas Schleicher, no conselho de Lisboa, um
ONG sedeada em Bruxelas, e o muito útil e interessante estudo de
Manuel Castells (o conhecido sociólogo catalão) sobre os porquês do
sucesso finlandês, talvez possamos retirar alguns ensinamentos:
- o sucesso não é um factor directo do dinheiro
que se gasta no sistema educativo, nem sequer do que se paga aos
professores. Em Portugal, por exemplo, gasta-se mais do que em
Espanha e quase o dobro do que despende na República Checa, e ambos
os países estão acima de nós nos três "rankings". Por seu turno, os
professores finlandeses estão muito longe de serem os mais bem pagos
ou de o país ser o que mais investe no ensino secundário;
- o sucesso já tem muito mais a ver com a
organização do sistema escolar, com a autonomia - tanto orçamental,
como curricular - das escolas e com a sua relação com as comunidades
locais, algo que tanto o estudo assinala, como Castells destaca. Um
sistema centralizado como o nosso é quase sempre a receita para o
desastre;
- o sucesso está também directamente relacionado
com a importância social e cultural que se dá à formação e à
educação. É por isso sem surpresa que notamos o lugar de destaque
obtido pelos asiáticos, cuja cultura valoriza há milénios a educação
como forma de progresso social, enquanto na Europa os países da
frente são os que têm uma mais forte ética de responsabilização
individual. Por outras palavras, os de herança protestante, uma
ética que Castells também diz ser um dos segredos por detrás do
milagre finlandês;
- o sucesso está por fim relacionado com a
flexibilidade do sistema educativo, criando desde muito cedo um
sentido de exigência e responsabilidade que desafia os professores,
os alunos e as famílias a prepararem-se para formações abertas, que
não estreitem o futuro dos jovens e tornem mais fácil que busquem
novas oportunidades e novos caminhos, não ficando para trás.
Alguns países, como a Polónia, olharam para estes
resultados e trataram, com sucesso, de sair dos últimos lugares. Em
Portugal temos encolhido os ombros ou feito exactamente o contrário,
designadamente ao centralizar ainda mais o sistema, obsessão que
este ano se traduziu noutro desastre, o da colocação de professores.
Quando será que despertamos e aprendemos com quem faz melhor do que
nós?
José Manuel Fernandes
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