Público - 7 Dez 04
Trinta
por Cento dos Rapazes Só Tem Nível Mínimo de Literacia
Por ISABEL
LEIRIA
Pouco ou nada
mudou no desempenho dos alunos portugueses de 15 anos, entre a
primeira edição do PISA, em 2000, e a do ano passado. A média obtida
é ligeiramente superior, mas a diferença não é estatisticamente
significativa.
Aliás, a
análise 2000/2003 revela que a maioria dos 32 países para os quais
há elementos de comparação não registou qualquer evolução. No
entanto, o facto de só existirem dois anos de referência não permite
dizer se a evolução é indicadora de uma tendência de longo prazo ou
circunstancial, ressalva a OCDE.
A verdade é
que, três anos depois, o país volta a integrar a lista de Estados
onde pelo menos vinte por cento dos alunos (22 por cento em
Portugal) tem desempenhos de nível 1 (numa escala de 1 a 5) ou
inferior. Quer isto dizer que estes estudantes ou nem possuem as
capacidades mais básicas que o PISA pretende medir ou ficam-se pela
realização de tarefas elementares, como localizar informação
explicitamente contida no texto ou reconhecer o tema principal.
Os resultados
só não são piores por causa do desempenho das raparigas. Olhando
para a diferença entre sexos, verifica-se que praticamente 30 por
cento dos rapazes não vão além do nível 1. Com as raparigas acontece
com 15 por cento. Isto não quer dizer que não sejam capazes de ler,
mas que demonstram grandes dificuldades na capacidade de usar a
informação escrita, como instrumento para a aquisição de
conhecimentos e competências noutras áreas.
Grécia,
Itália, Espanha ou Luxemburgo são outros dos países da União
Europeia a apresentarem resultados preocupantes. Tal como acontece
com a literacia científica, abaixo deste grupo onde se inclui
Portugal (média de 478), só dois Estados da OCDE apresentam
desempenhos significativamente piores: Turquia e México.
"À beira de
completarem a escolaridade obrigatória, um número significativo de
jovens não estão a adquirir as ferramentas necessárias a que se
saiam bem no futuro, seja na escola, seja no mundo profissional",
alerta o relatório.
Raparigas
saem-se melhor
No extremo
oposto, encontram-se os oito por cento dos estudantes que atingem o
nível máximo de competências, ou seja, que são capazes de realizar
os exercícios de leitura mais complexos, como compreender na íntegra
textos que não lhes são familiares. Em Portugal, apenas 3,8 por
cento dos estudantes situam-se no nível 5, contra um máximo de 16
por cento da Nova Zelândia.
Globalmente, a
Finlândia volta a liderar a tabela de desempenhos médios. Destaque
também para a Irlanda, o segundo país da União Europeia mais bem
classificado.
Mas mais do
que as diferenças entre Estados, são de assinalar as disparidades
entre alunos de um mesmo país, que são cerca de dez vezes maiores.
"Um dos maiores desafios que se colocam aos sistemas educativos
trata-se exactamente de motivar os bons alunos a serem cada vez
melhores e, simultaneamente, combater os maus resultados", sustenta
a OCDE.
Tal como em
2000, as raparigas apresentam resultados significativamente
superiores aos rapazes, em todos os países. Em Portugal, eles têm
duas vezes mais probabilidades de se encontrarem entre o grupo dos
piores do que elas.
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