Público - 24 Dez 03

"Não É Uma Doença e por Isso Não É Preciso Ir para o Hospital"
Por C.G.

No momento em que se preparava para nascer um dos seus quatro filhos, Laura Dinis foi estando com as outras crianças à mesa da cozinha. De quando em quando punha-se de pé e andava, sentava-se outra vez, a certa altura desapareceu por uns momentos, foi até ao quarto e o bebé nasceu. Os filhos deixaram de a ver durante uns minutos, "o tempo da expulsão".

É com esta naturalidade que quer que os filhos encarem um acto que, desde o início os pais lhes explicaram: "Não é uma doença e por isso não é preciso ir para o hospital. Eles vêem-me despida, não há panos a cobrir." Laura, professora de economia e sociologia de 43 anos, teve os quatro filhos em casa, no quarto onde dorme todos os dias, com a ajuda da parteira - o último demorou cinco horas a nascer.

Eva, e depois dela todas as mulheres da sua descendência, sofreu as duras dor de parto. Outra das ideias associadas ao parto que teima em não aceitar. "Recuso-me a aceitar que parto é dor." Os meses que dura a gravidez servem para algo que mais do que a gestação, servem para aprender a dar à luz e a controlar a dor. Ela preparou-se disciplinadamente, todos os dias 10 a 15 minutos para o fortalecimento dos músculos que mais ia precisar, teve aulas de ioga em grupo para adquirir técnicas de descontracção e teve cuidados com a alimentação, continuou a não comer carne, ovos, queijo e açúcar refinado.

Mesmo aplicando todos os ensinamentos de respiração e descontracção, soube que na contracção seguinte não ia aguentar, avisou o marido que estava ao lado e foi ele quem fez o parto do seu segundo filho. Uma coisa é "assistir" no hospital, outra é participar no parto, "exige uma coragem diferente dos homens". Quando amigos seus lhe contam que se sentem inúteis no hospital, a ver as mulheres sofrer sem nada fazer, contrasta os relatos com estas suas experiências, do marido como parte activa.

Para Laura há uma grande diferença entre os seus "momentos de felicidade" e o "o martírio dos desconfortos e barulhos do hospital". Se tudo se fizesse com a calma com que ela tem os seus bebés, muitas cesarianas e cortes da mãe eram evitados. "A mãe ao ter o bebé é a rainha, sentada, em pé, a andar, deve ser ela a escolher em que posição se sente mais confortável para ter um bebé." Laura Dinis escolhe estar semi-deitada.

A sua forma de ter filhos não se trata de um retrocesso, mas de um passo em frente, defende: "Estamos numa fase de evolução da sociedade em que devíamos exigir esse direito", o de ter um parto em casa, sem dor e sem químicos.

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