Público - 24 Dez 03
"Ter Um Bebé em Casa Não É Terceiro-mundista"
Por C.G.
Para Catarina Castro a questão nem se colocava em forma de dilema: entre
ser-lhe "feito um parto" no hospital, um acto médico da qual é excluída, e
transformar aquele acontecimento num "momento mágico e familiar", não
houve grandes dúvidas.
O Guilherme veio ao mundo em 20 minutos, em Junho deste ano, foi tudo
demasiado rápido, não deu sequer tempo para a parteira chegar. Tinha um
pressentimento de que ia ser o pai a fazer ao parto e foi o que aconteceu,
o marido foi obrigado a agir - e rapidamente. A outra filha estava a
dormir no quarto ao lado. Foram acordá-la para ver o irmão recém-nascido,
que já estava a mamar, ainda preso pelo cordão umbilical.
Catarina, assessora de imprensa, explica que a primeira vez que lhe
disseram que havia pessoas que tinham bebés em casa ficou "chocada". Mas
depois do período de julgamento começou a conhecer experiências de quem
tinha passado por isso, leu livros e percebeu que em países como a Holanda
ou a Inglaterra a prática é tida como normal. "Ter um bebé em casa não é
terceiro-mundista. É um momento mágico sem interferências."
Ao ambiente do hospital, que já via como hostil e onde se sentia tensa,
juntaram-se novos dados que foi adquirindo: "quando mais calma está a mãe,
melhor corre o parto"; a monitorização dos batimentos cardíacos do bebé
altera os batimentos cardíacos da mãe; por sua vez, esta monitorização é a
razão que obriga ao parto deitada de barriga para cima, uma posição que
não "dá jeito à grávida".
Catarina garante que nada tem contra os hospitais, aí foi seguida durante
toda a gravidez e só foi aos seis meses que a parteira lhe disse que podia
fazer-lhe o parto em casa. "A maioria dos partos é natural", lembra,
"somos mamíferos, só há pouco tempo nascemos em hospitais." Mais: "Há
muita gente a nascer em casa, só que não se fala disso."
Nem sempre teve tantas certezas, quando a primeira filha lhe nasceu,
também em casa, houve problemas, ela adoeceu pouco tempo depois e ouviu de
tudo no hospital, "fomos mal tratados, desmoralizados, foi terrível".
Descansou quando descobriu que a infecção que a menina tinha nada tinha a
ver com o parto e podia mesmo ter sido apanhada em ambiente hospitalar.
Quando lhe dizem que a sua é uma opção arriscada, responde que as opções
são sempre feitas de risco. "Não gosto de hospitais, há pessoas que se
conseguem abstrair. Eu é assim que me sinto bem." |