Diário de Notícias - 22 Dez 03

Comunicação passa educação em gastos
CÉU NEVES

Os portugueses gastam quase três vezes mais com as comunicações do que com a educação. Aquela é a parcela das despesas das famílias que mais aumentou na última década, estando a aproximar-se dos gastos com a saúde. Em 2001, cerca de um quarto das famílias (24%) possuíam computador e 13% tinham ligação à Internet.

A rubrica «sociedade de informação e do conhecimento» é a que regista maior evolução, segundo o levantamento feito pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) do Portugal Social, cuja publicação o DN hoje termina.

O estudo foi realizado em colaboração com o Observatório das Ciências e das Tecnologias e conclui que os gastos com as comunicações aumentaram mais de 700% entre 1989 e 2000. Passaram de 69 euros por ano, em média, para 451 euros, sendo que o grande salto se deu a partir de 1995. Em seis anos, as despesas das família com computadores, Internet e telefones aumentaram de 1,6% para 3,3% do total dos consumos familiares.

Uma subida que o sociólogo Gustavo Cardoso, especialista em novas tecnologias, explica pela massificação das comunicações móveis, Internet e da televisão por cabo a partir da segunda metade dos anos 90. «Portugal não é o que gasta mais, mas é o que regista um maior crescimento nos últimos anos», refere, acrescentando: «As pessoas consideram as telecomunicações uma necessidade básica, a par de bens como a água e a electricidade».

Comparativamente a outros países da UE, Portugal fica no meio da tabela em termos de gastos com as comunicações, entre 6 e 6,5% do Produto Nacional Bruto, situando-se ao lado da Itália e Irlanda. A média espanhola é de 5,1% e a grega 6%.

Mas os dados estatísticos podem encobrir uma outra realidade que é a distribuição desigual deste tipo de equipamentos. São as famílias de maiores rendimentos que mais consomem bens ligados às novas tecnologias, o mesmo se verificando em relação às regiões mais ricas do País. Trinta por cento dos residentes na região de Lisboa e Vale do Tejo têm equipamento informático, enquanto apenas 12% dos lares madeirenses possuem um computador.

Os estudantes, os jovens e os homens são os principais utilizadores da Internet. Em 2001, 29% dos indivíduos com 15 e mais anos utilizavam habitualmente ou ocasionalmente o computador e 18% a Internet. A casa (44%) e o trabalho (36%) são os principais locais de acesso, sendo que os lugares públicos, os cibercafés e similares apresentam ainda baixos níveis de utilização, na ordem dos sete por cento.

Já os gastos com a educação são bastante inferiores. Estes constituem 1,3% do total das despesas, ou seja uma média anual de 175 euros por agregado familiar, percentagem que se mantém desde 1995. «Esses valores não correspondem aos custos reais com a educação, já que estes são comparticipados pelo Estado, tal como acontece com a saúde. A situação é diferente nas comunicações, que são totalmente suportadas pelas pessoas», explica Gustavo Cardoso.

Refira-se que as despesas das famílias residentes em Portugal são sobretudo com a habitação, água, electricidade, gás e outros combustíveis (19,8%), seguindo-se os produtos alimentares e bebidas não alcoólicas (18,7%) e transportes (15%).

Entre as empresas com mais de dez trabalhadores, 84,4% possuem computador e 71,8% têm ligação à Internet. A nível dos estabelecimentos escolares e não incluindo o ensino superior, existem no Continente cerca de 3,5 computadores por escola, para uso dos alunos.

Um outro dado a ter em conta é o acesso dos portugueses ao ensino, sendo que as mulheres são as grandes responsáveis pela elevação do nível de escolaridade da população portuguesa. No entanto, a população escolar com ensino básico diminuiu quase 319 mil alunos na última década. Em 2001, mais de metade das crianças de três anos frequentavam jardins de infância.

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