Público - 13 Dez 03
Em Defesa da Liberdade de Expressão
Por LUÍS MARQUES
É impressionante como, após vinte e cinco anos de vivência democrática,
alguns políticos da nossa praça não aprenderam ainda certas regras básicas
da democracia. Um exemplo típico é o de Fernando Rosas, que zurze
obstinadamente contra o direito que as pessoas e as associações da
sociedade civil têm de se reunir e pronunciar livremente. Curiosamente,
fá-lo demonstrando ter um preconceito religioso contra os católicos e
contra o catolicismo, ao ponto de perder a objectividade e de se alienar
num infundado delírio fundamentalista! Como que por decreto exarado de
Fernando Rosas, todas as pessoas que defendem o valor da vida humana
passariam, por via administrativa, a ser rotuladas de católicos
fundamentalistas: seita execrável que urge silenciar. Este tipo de
atitude, a todos os títulos anacrónica e lamentável, lembra outros tempos
felizmente já superados pelo progresso histórico.
O mesmo político esquece, também, que em Portugal vigora a separação de
poderes. É pouco saudável para a nossa democracia que os políticos tentem
pressionar, influenciar ou condicionar as decisões judiciais. Como os
arguidos têm direito à presunção de inocência, também não é boa prática
democrática procurar tirar dividendos políticos de um processo que ainda
não transitou em julgado. Este tipo de comportamento revela uma
desesperada necessidade de, por falta de argumentos, forçar a mediatização
da questão do aborto de modo a recolocar o tema na agenda política pelo
ângulo da vitimização da mulher.
Na verdade, a mulher é a primeira vítima do aborto. Na maioria dos casos a
mulher aborta porque lhe foi negada a possibilidade efectiva de uma
escolha melhor. Quantas e quantas vezes a mulher aborta contrariada,
pressionada pelo pai do seu próprio filho, ou pela circunstância de se ver
sozinha, sem apoio da família mais próxima e sem condições económicas, ou
por crer que vai ser preterida no seu futuro profissional pelo facto de
dar à luz uma criança. Oferecer o aborto como solução é negar às mulheres
as verdadeiras condições de escolha a que têm realmente direito. Será que
o melhor que, como sociedade, podemos oferecer às mulheres é incentivá-las
a abortar muito, sem critério e por qualquer motivo? Não, claro que não.
Elas merecem muito melhor!
Acresce que o aborto é sempre uma má opção, pois prejudica gravemente a
saúde física e psíquica da mulher. As evidências científicas que
demonstram o prejuízo que o aborto provoca à mulher são tão claras que,
neste momento, está em apreciação no Supremo Tribunal Americano um acção
para anular a decisão que liberalizou o aborto naquele país.
Lá, como cá, os que lucram com o negócio do aborto e os que usam o aborto
como bandeira ideológica tentam, a todo o custo e chegando mesmo a
disfarçar-se de católicos para gerar confusão, passar a ideia de que não
há outras alternativas possíveis. Mas há! E são melhores para a mulher
porque respeitam a sua dignidade e não reduzem o seu direito de escolha à
possibilidade de matar o próprio filho. Lá, como cá, os defensores do
aborto associam-se aos que pretendem vir a ganhar muito dinheiro com a
manipulação de embriões humanos e procuram passar a ideia de que não se
sabe quando é que a vida humana começa. Só não percebe quem não quiser:
estamos, em ambos os casos, diante de uma conversa da treta que
instrumentaliza de forma arbitrária a vida humana. Precisamente para
evitar isso, a Constituição Portuguesa consagra o princípio de que a vida
humana é inviolável. É um princípio sensato, susceptível de ser partilhado
por todas as pessoas de bem, independentemente do seu credo ideológico ou
religioso.
Já agora: será que os portugueses não têm o direito de ser cabalmente
esclarecidos acerca do grau de protecção que o preservativo confere?
A esse respeito a Food and Drug Administration, entidade federal
responsável por garantir a defesa da saúde dos americanos, afirma acerca
do preservativo: "Não é 100 por cento seguro, mas se for usado
correctamente reduz o risco de infecção." Reduz o risco de infecção, mas
esta, mesmo assim, pode ocorrer. Razão pela qual aconselha: "Se o seu
parceiro(a) está infectado(a), a melhor regra é evitar o acto sexual (e
evitar mesmo o sexo oral)." E ainda: "Se tem dúvidas acerca da sua
situação ou acerca da situação do seu parceiro, deverá escolher não
iniciar a relação sexual." E reforça: "O melhor meio de se proteger é não
ter actividade sexual. Outro meio é limitar a actividade sexual a um(a)
único(a) parceiro(a) não infectado(a) que, por sua vez, procede da mesma
maneira (monogamia)."
Quem tem medo de informar correctamente os jovens portugueses? Quem lhes
garante que o preservativo torna o sexo seguro está a enganá-los porque
não lhes conta o filme todo! As campanhas baseadas no axioma simplista
"preservativo = sexo seguro" acabam por fracassar, como, de resto, todas
as campanhas que tentam iludir a realidade.
Médico em Coimbra |