Público
Mães Aprendem a Massajar Bebés em Faro
Por IDÁLIO REVEZ
Quarta-feira, 11 de Dezembro de 2002
Para crianças se acalmarem
Um toque no lugar certo, pode valer mais do que o remédio para as cólicas
Dar a chupeta a um bebé para ele se calar nem sempre é a melhor solução para
satisfazer crianças choronas. Em Faro, no infantário Oficina Divertida,
as mães andam a aprender a massajar os filhos para os
ajudar a livrarem-se do "stress" e das dores de barriga.
Ao fim e ao cabo, rir ou chorar são apenas formas de expressão, e um toque
no lugar certo é quanto basta para gerar ondas de satisfação. A
fisioterapeuta Sílvia Conde é a monitora deste curso, que se baseia em
técnicas orientais, mas que já ganhou muitos adeptos no Ocidente. Um
simples movimento a imitar o das pás do moinho na
barriga, garante, pode ser o remédio certo para muitas
das cólicas de que, não raras vezes, as crianças são
vítimas.
Embora possa ser considerada novidade em Portugal, trata-se de uma prática
bastante comum em Inglaterra e nos países nórdicos, "merecendo até a
comparticipação da Segurança Social", de acordo com a técnica de saúde.
Massajar os bebés para os deixar mais tranquilos pode parecer o que toda a
gente faz, mas do que se trata neste curso é da aprendizagem das formas
para melhor alcançar a estimulação, o relaxamento e o
alívio.
"Os bebés são tão focinhos que até me apetecia dar-lhes beijocas. Mas não
são meus", diz a fisioterapeuta, que nem toca nas crianças. Para
exemplificar os exercícios, socorre-se de um boneco, e as mães vão
passando à prática os ensinamentos juntando-lhes uma
pitada de carinho.
O curso dura um mês, com aulas uma vez por semana, e já vai na quinta
edição. Mas das mais de 25 mulheres que frequentaram estas aulas, apenas
uma apareceu acompanhada pelo pai da criança. Sílvia
Conde não comenta a ausência dos pais, preferindo
acreditar em que depois, em casa, "eles também podem
aprender e praticar".
Numa das últimas aulas, Bruna, de dois anos e meio, desempenhou o papel de
mamã. Enquanto a mãe aprendia a massajar o irmão Guilherme, ela fazia de
conta num boneco. O pequeno Guilherme, diz a mãe, "ficou deliciado com as
massagens nos dedos dos pés", mas os toques na barriguinha "foram menos
do seu agrado". A monitora lembrou a importância dos
movimentos no ventre "para libertar os gases e aliviar as
cólicas". Porém, diz a monitora, se o bebé chora isso não
deve ser considerado um drama. Pode apenas significar que se
está a exprimir.
Na sala em que decorre a aula respira-se um ambiente de felicidade contida.
À medida que vão descobrindo qual o movimento das mãos que mais agrada
aos seus filhos, as mães parecem reatar o cordão
umbilical que um dia as ligou às crianças. E os olhares
cruzam-se, num diálogo de cumplicidades e alegrias.
Sílvia Conde diz que apenas quer ajudar os pais a melhor compreenderem os
filhos. Mas nem sempre a vida é feita de sorrisos. Teresa, de dois meses,
choraminga na aula e não parece estar nos seus melhores dias. A mãe, que
já domina a situação, não deixa de gracejar: "Chora
porque acha que está ficar gordinha. Foi pesar-se e, como
está com 5,6 quilos, não gostou".
Ao lado, as outras mães vão passando as mãos oleadas pelos corpos dos
filhos, ao mesmo tempo que a formadora as desafia a acompanharem os seus
movimentos ritmados, contando uma história. Do olhar dos bebés parece
saltar a pergunta: massagens, quem é que não gosta?
Sílvia Conde é um das 15 instrutoras em Portugal que receberam formação da
Associação Internacional de Massagem Infantil para ministrarem estes
cursos. Esta associação foi fundada em 1986, pela
norte-americana Vimala McClure, depois de ter trabalhado
como voluntária num orfanato na Índia.
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