Portugal Diário
Aborto: «proteger» o embrião
06-12-2002 10:32
PD
Nova federação quer criar estatuto jurídico para «proteger» o embrião
SOCIEDADE
A recém-criada Federação Portuguesa pela Vida, que agrega nove associações
contra a despenalização do aborto, pretende «criar bases» para que se defina um
estatuto jurídico do embrião, de forma a «proteger» a vida intra-uterina.
Em declarações à Agência Lusa, José Areia de Carvalho, presidente da Federação,
cujos corpos sociais tomam posse sábado, pormenorizou que «desde o momento da
concepção até ao nascimento não há nada [juridicamente] específico para este
período da vida humana», pelo que há necessidade de colmatar o «vazio legal».
A intenção da Federação é reunir vários especialistas de forma a obter propostas
«adequadas e sensatas do ponto de vista jurídico e técnico» que permitam vir a
propor legislação que confira um estatuto jurídico ao embrião.
Areia de Carvalho avançou ainda que a necessidade de conferir um estatuto legal
ao embrião é «importante não só por causa do aborto, mas também devido à
clonagem» [de embriões].
«É inaceitável a utilização de embriões para experimentação, a não ser que a
esta se destine a beneficiar aquela própria vida que ali está», criticou Areia
de Carvalho, que se insurgiu igualmente contra a criação de embriões
excedentários.
«Tem de haver regras», sublinhou o também presidente da Associação Vida Norte,
que ressalvou, porém, não ser intenção da Federação «estabelecer, para já,
barreiras à reprodução medicamente assistida».
O responsável da Federação Portuguesa pela Vida nega igualmente que a criação de
um estatuto jurídico para o embrião seja «uma tentativa encapotada e desleal
para diminuir os casos de aborto permitidos pela lei».
Até porque, sublinhou, a despenalização do aborto em situações como a violação
da mulher ou o aborto terapêutico, em casos de malformação do feto, «são
excepções que já têm enquadramento legal».
Além desta intenção, são igualmente objectivos da Federação - criada por
associações surgidas no rescaldo do referendo de 1998 sobre a despenalização do
aborto, que deu a vitória ao não -, «promover uma verdadeira cultura de respeito
pela vida humana».
O que passa por desenvolver fóruns de discussão e trabalho sobre mais do que a
protecção à maternidade - área em cujo apoio as várias associações têm actuado
-, e incluir questões como a sinistralidade rodoviária e laboral.
A este propósito, Areia de Carvalho não fecha a porta da Federação a qualquer
associação desde que, enfatizou, «respeite um princípio básico: »A vida humana
tem de ser respeitada em todos os momentos, desde a concepção até à morte
natural«.
Instado pela Lusa a comentar a criação da Federação quando a Juventude
Socialista acabou de lançar uma campanha pela despenalização do aborto,
esperando mobilizar os cidadãos e consequentemente os deputados, Areia de
Carvalho assinalou que tal »não foi previsto, mas se calhar providencial«.
É que - argumentou - »não nos parece mal que exista discussão [sobre a
despenalização do aborto] porque, desde 1998, o nosso principal inimigo foi a
ignorância«.
Salientando a necessidade de um »debate em que as pessoas consigam reflectir de
forma séria e desapaixonada, o que não se conseguiu durante a campanha«, Areia
de Carvalho mostrou-se convicto de que a discussão será »muito favorável« para
as posições defendidas pela Federação.
»Se for um debate calmo, só pode ser vantajoso para a nossa causa. Temos a
consciência de que a verdade está do nosso lado e com um debate sério podemos
ganhar as pessoas para o nosso lado«.
A Federação Portuguesa pela Vida é constituída pela Vida Norte, Associação de
Defesa e Apoio à Vida (ADAV) de Coimbra, ADAV de Aveiro, Tudo pela Vida,
Mulheres em Acção, Vida Universitária, Juntos pela Vida, Ajuda de Berço e Ponto
de Apoio à Vida.

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