Mães portuguesas
abandonam cedo a amamentação dos filhos
Elsa Costa e Silva
Apenas uma em cada cinco mães portuguesas cumpre as
orientações da Organização Mundial de Saúde (OMS) no
que diz respeito à amamentação dos filhos. Ou seja,
alimenta os bebés exclusivamente a peito até aos
seis meses de idade. O cenário é muito preocupante,
diz o especialista Nuno Montenegro, até porque mais
de metade das mães abandonam a amamentação antes de
o bebé ter dois meses.
No dia em que se iniciou a Semana Mundial da
Amamentação, promovida pela OMS, e que contou com
várias iniciativas no País, ficou traçado um retrato
"negro" sobre esta realidade em Portugal. Os números
são do projecto Geração XXI, que vai seguir dez mil
bebés (nascidos nas cinco grandes maternidades do
Porto) até à idade adulta.
Estes dados - ainda preliminares e referentes a uma
amostragem dos mais de cinco mil casais que já estão
inscritos neste estudo - retratam uma realidade
ainda pouco conhecida em Portugal. E demonstram, diz
o médico que é chefe do serviço de Obstetrícia do
Hospital S. João, a falta de informação no que diz
respeito às vantagens e método da amamentação.
Por exemplo, uma das dez medidas preconizadas pela
OMS é "dar de mamar sempre que o bebé queira", mas,
garante Nuno Montenegro - que é também um dos
responsáveis do projecto Geração XXI -, "quase
ninguém faz isso", até porque os pediatras tendem a
impor um esquema horário da amamentação. "Mas não se
deve esperar pelas horas: se o bebé pede é porque
tem fome", defende.
Abandono
Cerca de 60% das mães que deixam de amamentar ainda
antes dos dois meses de idade afirmam que a razão
está na "insatisfação" do bebé. Mas, diz o
especialista, "isto só demonstra que é necessário
informar as mães sobre como devem amamentar e que
devem insistir, porque na maior parte destes casos
não acredito que haja de facto problemas com o leite
da mãe. Mas se ela não insistir, o leite acaba."
Ainda assim, aos seis meses de idade, há cerca de
40% de bebés a serem alimentados pela mãe. A OMS
recomenda ainda a amamentação até aos dois anos de
idade, acompanhada de outros alimentos.
Outra das razões invocadas para o abandono precoce
da amamentação tem a ver com o facto de as mães
terem de regressar ao trabalho. E, reconhece o
especialista, o período de duração das licenças de
maternidade não está adequado às necessidades de
mães e filhos nesta matéria. "Por alguma razão os
países nórdicos têm licenças de um ano", defende
Nuno Montenegro. Finalmente, a terceira causa do
abandono diz respeito a doença ou medicação da mãe
que desaconselha a aleitamento aos filhos.
Do projecto Geração XXI há ainda outro dado
interessante: o de que 5% das mulheres nunca
amamentaram os filhos. Uma situação que pode ficar a
dever-se a ausência de produção de leite ou falta de
vontade da mulher. E estes são também os casos em
que é necessário reforçar a mensagem de que o
aleitamento materno é uma opção saudável.
Este é, por exemplo o objectivo de uma banca,
situada nas consultas externas do Hospital S. João,
que vai distribuir esta semana panfletos com
informação a quem passar. "A amamentação é uma
questão que diz respeito a todos", explica Nuno
Montenegro. A comemoração da Semana Mundial vai
ainda contar com passagens de vídeos e conferências
temáticas sobre o tema.
Para além de facilitar a recuperação da imagem
corporal da mãe e diminuir a probabilidade de ela
vir a sofrer de cancro da mama, o aleitamento
materno tem várias vantagens para o bebé,
nomeadamente a prevenção de infecção e alergias. Por
outro lado, esclarece o folheto que é distribuído no
Hospital S. João, o leite da mãe é grátis e está à
temperatura ideal. É ainda ecológico, já que não
gasta recursos da terra nem implica embalagens.