Diário de Notícias - 0 4
Ago 05
A má educação
João de Mendia
Ele há limites para além dos quais
seria bom que se instituísse uma instância com poderes para
julgar, condenar e fazer parar a actividade, sem apelo, e de
imediato, institutos e personalidades responsáveis por
exageros acima dos limites da tolerância. Refiro-me ao
aparelho do ministério, ministros, docentes e sindicatos
ligados à Educação. Não aos alunos. E digo exageros porque
as políticas que têm existido de há 30 anos para cá têm
servido para tudo menos para ensinar ou educar. Deturpou-se
mesmo este conceito, através da lei, destruído que foi
aquilo que tinha isso como vocação natural, que era a
família.
Há dias, dois professores universitários e alguns
encarregados de educação, poucos, queixavam-se da péssima
qualidade que diziam ser as matérias que se ministram no
ensino e da ainda pior preparação de muitos professores. A
nossa educação, pré- -universitária, quando comparada com
outras, é como se não existisse, para quem tenha a veleidade
de se tentar colocar, de forma digna, no mercado de trabalho
fora de portas.
Depois de ter dado nas vistas a vergonha nacional que foi o
chumbo de 70% dos alunos a Matemática, a actual ministra da
Educação vem, agora, reconhecer que o primeiro ciclo tem que
ser "salvo". "Acha" que é confrangedor o estado de atraso em
que se encontram os alunos de uma maneira geral, mas estes
em especial. Mas como este mau estado tem décadas e a
ministra já alguns anos de idade, serão quem, os
responsáveis? Ou melhor; para quando chamá-los à
responsabilidade? As razões de existirem tribunais marciais
em tempo de guerra serão muito parecidas às que
justificariam aparecer a tal instância que responsabilizasse
os responsáveis pelo tempo que fizeram perder uma geração
inteira da nossa juventude. 30 anos.
O mau estado em que persistem manter a educação, permitir
que a juventude continue a servir de balão de ensaio a
inúteis e sucessivas reformas que se contradizem umas às
outras e reduzi-la a uma mera adquirente de literatura de
esquerda e sem o menor rigor científico, é crime. O respeito
que o Estado não tem pelo futuro de Portugal, que são os
actuais alunos, chega ao cúmulo de aquele permitir que haja
300 cursos de engenharia, reconhecendo, a própria Ordem,
apenas 30. Ou, ainda, de preferir sacrificar uma geração de
jovens mantendo um erro que foi detectado num programa de
ensino no secundário, alegando escassez de verbas para fazer
novos compêndios.
A talhe de foice, de outra "foice", antes do 25/4, para todo
o espaço português como Angola, Moçambique, Guiné, Cabo
Verde, S. Tomé e Príncipe, Timor e Macau, licenciavam-se,
anualmente, 95 pessoas em Direito, o que era suficiente
tanto para o Ministério Público, como para a Magistratura
como para a advocacia. Hoje formam-se todos os anos três mil
para um mercado que tem a dimensão a que Portugal está
reduzido! São, assim, urgentíssimas, duas coisas culpar os
culpados e emendar o que está mal, que é quase tudo. Mesmo à
força. O que é bem possível. Mesmo em democracia.
Vem agora alguém "responsável" recomendar que se "regrida" e
que se retomem os exames nacionais. De preferência nos
mesmíssimos anos em que eram feitos antigamente. Mas, como
nada é sério nesta trama de contornos apocalípticos, aqueles
exames, à semelhança do que se passou este ano, degenerariam
numa farsa que só serviria para se concluir que os
professores não ensinam. E não ensinam porque não sabem o
quê, nem como. Porque, se o fizessem, os alunos aprenderiam.
Como aprendem em qualquer parte do mundo. Quem é mau não são
os alunos; são o sistema e os professores.
A justiça, a saúde, a economia, as finanças, o turismo, o
património, o ambiente e, sobretudo, os valores, estão mal
porque a esquerda, perversa e irresponsável, politizou a
educação e instalou um sistema de laxismo generalizado, do
que vivem, usam e abusam os detentores do aparelho e os
sindicatos. Tudo isto à custa e em prejuízo dos alunos. É
imperativo alterar os parâmetros e as políticas da educação,
começando nos programas e acabando na preparação, selecção e
inspecção técnica e disciplinar dos professores. A qualidade
dos alunos portugueses não é pior nem melhor que a dos
alemães, ingleses ou italianos. É o sistema que não pode
estar mais errado e a docência que acha que a educação é
deles, e para eles. Mas não é. É para os alunos.
É surrealista admitir que se tenham mantido mesquinhos
interesses corporativos comprometendo, irremediavelmente, o
futuro dos alunos. Prática encetada pela demência marxista
que se perpetuou num laboratório político, e que se serve da
ingenuidade de alguns, da má fé de muitos e do beneplácito
de todos. Menos dos alunos, claro. É ainda inacreditável o
desprezo olímpico que o poder demonstra ter pela nossa
juventude em geral, permitindo que existam umas coisas que
tenham a designação de cursos, e muitos deles de superiores.
Estas "coisas" não servirão senão para entreter os jovens e
fazê-los, pura e criminosamente, perder tempo. Haverá pouco
rigor analítico naquele advérbio de modo, mas o que serão
senão criminosos aqueles que, deliberadamente, se servem de
fundos comunitários para vender uma coisa que não servirá
para nada, como é a inutilidade que muitos "aprendem" em
sessões de rigor científico iguais a zero e de utilidade
prática também nenhuma?
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