Público - 27 Ago 04
Deputados do PSD Pedem ao
Governo Que Impeça Entrada de Mulheres na Embarcação
Dois deputados do PSD ligados a
movimentos contra a despenalização do aborto defenderam ontem que o
Governo poderia barrar a entrada de mulheres no chamado "barco do
aborto" como forma de fazer cumprir a legislação portuguesa.
Pinheiro Torres, que também pertence
ao movimento Comunhão e Libertação, à direcção do Juntos pela Vida e
à associação Ajuda de Berço, afirmou ao PÚBLICO que as pessoas que
estão por trás da vinda a Portugal do navio da organização Women on
Waves estão a "proporcionar às mulheres condições para que pratiquem
um crime" e isso é "insane".
Para o deputado, trata-se de "uma
falta de respeito pelo processo de formação da vontade política",
pois em 1998 o referendo à despenalização do aborto resultou num
"não" à mudança da lei.
"O Governo não pode consentir em que o
crime seja praticado. Imagine que era um crime de pedofilia",
afirmou Pinheiro Torres, sugerindo ao Executivo que impeça o acesso
das mulheres ao barco ou que as identifique. "Em termos de direito,
o Governo saberá melhor o que fazer", diz.
Idêntica posição tem a deputada Isilda
Pegado, também ligada a movimentos de defesa da vida, que considera
a iniciativa "uma provocação à soberania portuguesa".
"O transporte das mulheres é uma
actividade ilícita porque destina-se a um fim ilícito", defende a
deputada, apelando a que as forças de segurança em águas marítimas
"actuem em conformidade" e que, "se houver forma legal", impedir a
entrada de mulheres no barco é "uma hipótese".
Os dois deputados não gostaram das
declarações da vice-presidente do grupo parlamentar do PSD, Ana
Manso, sobre o barco da Women on Waves, que reconheçera que a
iniciativa tinha alguma importância.
Ana Manso, recorde-se, afirmou
anteontem, em declarações ao PÚBLICO: "Não é com este tipo de
iniciativas que se resolvem os problemas, mas pelo menos vai ajudar
a reflectir e a alertar as pessoas para o problema" da interrupção
voluntária da gravidez.
"São frases infelizes, pois o Estado
não pode demitir-se de exercer a lei que tem", diz Isilda Pegado.
"O papel do PSD é apoiar este
Governo", afirma, por seu turno, Pinheiro Torres, considerando que a
iniciativa é "uma provocação política ao Governo e à maioria". H.P.
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