Público - 18 Ago 04

Queda de Baliza em Arcos de Valdevez Põe Criança Entre a Vida e a Morte
Por CARLA SOFIA MARTINS E ALEXANDRA CAMPOS

A problema da segurança dos recintos desportivos voltou à ordem do dia, depois de a queda de uma baliza ter ferido gravemente uma criança de 12 anos na segunda-feira, quando esta jogava futebol num recinto do lugar da Chã, freguesia de Loureda, Arcos de Valdevez. É o acidente mais grave de que há notícia desde o Verão de 2002, altura em que um jovem de 15 anos morreu em Vila Nova de Milfontes, num campo de férias, vítima da queda de uma baliza.

Desde então, muita coisa mudou: na sequência da vaga de acidentes mortais devido a queda de balizas registada entre 2000 e 2002, o Governo regulamentou em Maio de 2003 as condições de segurança destes equipamentos e definiu a noção de entidade responsável. O vazio legislativo foi preenchido e a sensação de impunidade reinante parecia ter acabado de vez.

Ontem, aliás, a família do jovem - cujo prognóstico é reservado, segundo os responsáveis da Unidade de Cuidados Intensivos do Hospital de S. João onde permanece ligado a um ventilador, entre a vida e a morte, com um traumatismo crânio-encefálico grave - anunciou de imediato que vai pedir o apuramento de responsabilidades e avançar com um processo judicial. "Alguém tem que ser responsável pela queda da baliza", disse à Lusa Manuel Silva, avô de Remi Silva.

A tarefa não deverá ser tão fácil como poderia parecer à primeira vista: ontem, em Arcos de Valdevez, todos trataram de rejeitar responsabilidades. O presidente da Junta de Freguesia de Loureda, Manuel Leira, defendeu que a queda da baliza poderá estar relacionada com "um acto de vandalismo" já que, no mês passado e por altura das festas da freguesia, o recinto foi alvo de uma limpeza por parte dos funcionários desta autarquia e, simultaneamente, foram colocadas fixações nas duas balizas do campo. Apesar dessa intervenção, Manuel Leira diz que a gestão daquele espaço era feita pela Associação Cultural, Recreativa e Desportiva de Loureda-Álvora, a quem imputa toda a responsabilidade pelo acidente.

Também para o presidente da Câmara dos Arcos de Valdevez - entidade a quem compete a fiscalização do espaço - o local está a ser gerido pela mesma associação, razão pela qual declina responsabilidades, argumentando que o espaço é um "logradouro público".

Outra versão tem o comandante dos bombeiros locais, Mário Araújo, que recordou ao PÚBLICO que o espaço está abandonado há vários anos e que a baliza terá caído devido à "degradação da estrutura" ou porque os mecanismos de segurança foram "retirados por alguém". Apesar de não querer apontar culpas directas, Mário Araújo considerou que "alguém tem que assumir responsabilidades e, se é um logradouro público, a Junta de Freguesia é a responsável pelo espaço".

Segundo moradores locais, este é o terceiro acidente num espaço curto de tempo e ficou a dever-se à falta de segurança pois, no local, era visível a ruptura do gancho em arame que prendia a baliza. A criança, filha de emigrantes em França, jogava futebol com outros rapazes e estaria pendurada na baliza quando esta cedeu ao peso, caindo e ferindo-a na cabeça. "Já dois miúdos ficaram debaixo daquela baliza, mas um acabou por ficar dentro dela e outro foi atingido num dos ombros", declarou José Barreiro, uma das pessoas que ontem vigiavam o espaço.

Apesar de estar vedado e ter uma porta, o recinto era "perfeitamente acessível" às crianças pois a porta estava, até ontem, sempre aberta. Barreiro acusou ainda a autarquia local e o pelouro do Desporto de nada fazerem pelo espaço, recordando que, no passado, aquele era um local onde se faziam competições de futebol.

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