Portugal Diário - 20 Abr 09

 

Conferência Episcopal quer campanhas políticas para a família
Arcebispo de Braga nunca se referiu a partidos, mas atacou divórcio, casamento gay, aborto e eutanásia

O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) desafiou, esta segunda-feira, os candidatos às eleições legislativas a apresentarem propostas sobre a família, considerando-as «mais decisivas para o futuro da sociedade» do que outras questões destacadas nas agendas partidárias e na comunicação social, escreve a Lusa.

«Os cidadãos têm o direito de saber qual a concepção de política familiar subjacente aos vários programas», afirmou D. Jorge Ortiga, no início dos trabalhos da Assembleia Plenária da CEP, que decorre até quinta-feira em Fátima.

Para o prelado, «é legítimo, e é mesmo um dever, que os políticos atribuam a estas questões o peso que verdadeiramente têm, de modo que os eleitores possam escolher em consciência».

«É grave que se assista à tentativa de redefinição legal do casamento (e, desse modo, do conceito de família), de modo a nele incluir uniões entre pessoas do mesmo sexo», declarou.

O responsável acrescentou que «a educação da pessoa, por seu lado, supõe o contributo simultâneo das dimensões masculina e feminina», reiterando que o casamento é uma «união entre um homem e uma mulher, como sempre foi concebido nas mais variadas épocas».

D.Jorge Ortiga renovou as críticas à Lei do Divórcio: «As recentes alterações legislativas ao regime do divórcio, que o facilitam ainda mais e que tornam o casamento civil o mais instável dos contratos, não podem deixar de ser apontadas como sinal negativo.»

D. Jorge Ortiga insistiu que «a banalização do divórcio, extremamente facilitado, compromete gravemente a função social da família e é dos mais claros sintomas da sua crise».

O presidente da CEP criticou a existência de «uma mentalidade deliberadamente anti-natalista». «Os poderes públicos, se querem combater a crise demográfica, deveriam veicular uma mensagem cultural de valorização da vida», disse, considerando-a «contraditória» com a legalização do aborto.

Para o arcebispo, «a experiência dos primeiros anos dessa legalização evidencia já o que antes se temia, a banalização crescente dessa prática», acrescentando que se «revelam agora enganadoras as declarações de que a legalização permitira conter o número dos abortos, através de sistemas de aconselhamento».

D.Jorge Ortiga elogiou as «medidas recentes de aumento dos abonos de família ou de alargamento das licenças de maternidade e paternidade», mas apontou a «injustiça de um sistema fiscal que discrimina negativamente as pessoas casadas e que não tem em devida conta os encargos que os filhos representam».

Quanto às «anunciadas propostas de legalização da eutanásia, que apresentam a morte como resposta ao sofrimento da doença e da fase terminal da vida», a Igreja católica responde com «amor fraterno e solidário». «Há que valorizar a vida, mesmo na doença e na sua fase terminal. A doença não retira dignidade à vida», considerou.

Ao falar da crise económica, D. Jorge Ortiga criticou os empresários que «abandonaram o barco com atitudes fraudulentas, não respeitando as mínimas exigências éticas», e os trabalhadores que «caminham na ilusão de acreditar em realidades que não existem».

D. Jorge Ortiga admitiu que actualmente a tensão entre patrões e operários é mais profunda, «pelo facto das decisões se tornarem mais distantes, porque tomadas por potentados financeiros que se tornam, ou podem tornar, árbitros absolutos, sem consideração pela dignidade do trabalhador».

O responsável da CEP referiu também o desemprego: «Negar ou não proporcionar que todos possam exercer uma actividade que permita o essencial para viver significa gerar fenómenos de exclusão e marginalidade social, potencialmente causadores de insegurança, violência ou incapacidade de vida em comum no respeito por todos.»