Portugal Diário - 03 Abr 08

 

Adopção: fim da isenção de custas «é imoral»

 

Instituições criticam medida que «dificulta e onera» estes processos

 

A associação Bem Me Queres criticou esta quinta-feira a perda de isenção dos processos de adopção de crianças considerando que é «imoral» por dificultar ainda mais um dos possíveis projectos de vida de milhares de crianças institucionalizadas, refere a Lusa.

 

A partir de Setembro quem avançar com um processo judicial para adoptar uma criança paga inicialmente 576 euros, relativos a custas judiciais que até agora não existiam.

 

Para a Bem Me Queres, uma associação com estatuto de Instituição Particular de Solidariedade Social que visa promover a adopção em Portugal e exercer a actividade de mediação da adopção internacional, a entrada em vigor do novo regulamento das custas processuais irá pôr em causa a gratuitidade dos processos de adopção.

 

Segundo a associação, se em termos económicos cada criança que é adoptada é menos uma criança que o Estado tem a seu cargo, não se justifica a não isenção de custas no novo Regulamento das Custas Processuais que entrará em vigor em 1 de Setembro de 2008.

 

Este pagamento, ainda que possa vir a ser devolvido, é na opinião da associação «imoral e socialmente injusto».

 

«Enquanto que no Código das Custas Judicias actual, e ainda em vigor, na sua línea a) do n.º 1 do artigo 3.º, os processos de adopção são claramente abrangidos pela isenção de custas, no novo Regulamento de Custas Processuais a isenção é contemplada apenas em relação aos menores ou respectivos representantes legais, nos recursos de decisões relativas à aplicação, alteração ou cessação de medidas tutelares, aplicadas em processos de jurisdição de menores (artigo 4.º, alínea i do RCP)», explica.

 

A Bem Me Queres refere ainda que como associação de promoção da adopção em Portugal estará atenta a tudo o que envolva o instituto da adopção, e relativamente a este assunto «irá mobilizar-se e tudo fazer no sentido de ver alterada esta situação».

 

Director do Refúgio Aboim Ascensão critica medida

 

O director do Refúgio Aboim Ascensão considerou que o fim da isenção de custas judiciais dificulta e onera o processo de adopção de uma criança, pelo que deve ser eliminado tal como qualquer outra medida neste sentido.

 

«Sou contra qualquer espécie de medida que complique um processo de adopção. O Estado não tem o direito de cobrar a quem está disponível para ser família», disse Luís Vila Boas.

 

Por outro lado, Luís Vilas Boas considera que nestes processos o Estado deve dar a sua contrapartida prestando o serviço jurídico gratuito a quem assume a responsabilidade de fazer cumprir o direito de ter uma família, um dos direitos das crianças.

 

«Para o exercício do direito de uma criança em ter uma família o Estado não tem o direito de cobrar a quem está disponível para ser essa família. Não se cobra taxas para exercer um direito e sim para quem comete crimes», disse.