Cavaco destaca "papel decisivo da família" no
sucesso dos esforços para a inclusão
Bárbara Simões
Baixo nível de instrução e qualificação dos mais
desfavorecidos leva Presidente da República
a querer "aumentar as expectativas e as metas de
escolarização das novas gerações"
Empresários, escolas, instituições, voluntários - é
longo o rol daqueles que podem ter um papel a
"contrariar o destino" dos menos favorecidos. Mas as
suas acções e os resultados que obtiverem "não
dispensam o papel decisivo da família". Sem ela,
"sem a sua função de socialização e de entreajuda,
dificilmente os esforços de inclusão poderão ter
sucesso".
Um ano depois de ter proposto aos portugueses um
compromisso cívico para a inclusão social, na hora
de fazer o balanço o Presidente da República optou
por deixar um outro apelo: "É tempo de abandonarmos
a atitude desculpabilizante a que nos habituámos e
de questionarmos cada vez mais a responsabilidade
dos pais para com as crianças e jovens e as
responsabilidades dos filhos para com os seus
ascendentes idosos."
O Centro Nacional de Exposições, em Santarém,
acolheu ontem durante todo o dia uma conferência
patrocinada por Cavaco Silva. Objectivo: fazer o
balanço do Roteiro para a Inclusão, iniciativa em
quatro etapas que levou o Presidente a tomar
contacto directo - e a contribuir para a divulgação
- de experiências e pessoas que em 20 concelhos do
país ajudam a tornar menos difícil a vida dos
pobres, dos idosos isolados, das vítimas de
violência doméstica, das crianças maltratadas, dos
imigrantes excluídos.
O "baixo nível de instrução e de qualificação de uma
parte significativa das pessoas que protagonizam
estes casos" de exclusão impressionou o Presidente.
Que por isso pede a todos "um esforço no sentido de
aumentar as expectativas e as metas de escolarização
das novas gerações". A escola, lembrou Cavaco, "tem
sido e vai continuar a ser o mais importante
instrumento de inclusão social, a oportunidade
decisiva de que os jovens dispõem para contrariar o
determinismo social e romper com o défice de
qualificação das gerações anteriores".
No mesmo discurso o Presidente aproveitou para
lembrar algumas das experiências que mais o
sensibilizaram neste roteiro: deficientes a
trabalhar em empresas; um centro social e uma
filarmónica no Alentejo, o combate ao desperdício
protagonizado pelo Banco Alimentar contra a Fome; a
iniciativa de um grupo de empresários que se
juntaram para ajudar escolas e famílias a superar o
défice de qualificação.
Durão Barroso precedera Cavaco Silva no encerramento
do encontro. Antes de apontar algumas das
prioridades para a acção social, a nível europeu, o
presidente da Comissão Europeia defendeu que "sem
solidariedade social não pode haver União Europeia -
uma união necessita de mecanismos que só por si o
mercado não fornece".
Ao longo do dia desfilaram pelo anfiteatro diversas
experiências, testemunhos, preocupações. Entre
outras coisas, ficou a saber-se que a bolsa de
voluntariado da Entrajuda recebeu, em quatro meses,
mais de 2800 inscrições.
Cavaco Silva, que se ausentou do centro de
exposições durante a maior parte dos trabalhos, já
tinha dito à hora de almoço aos jornalistas: "É
preciso mostrar que, se já se fez alguma coisa, há
ainda um caminho a percorrer."
José Alberto, provedor da Santa Casa da Misericórdia
de Mértola, está certamente de acordo. Esta zona do
Alentejo foi visitada pelo Presidente da República
no final de Maio, logo no primeiro dia do Roteiro
para a Inclusão, enquanto palco de projectos de luta
contra o isolamento, sobretudo de idosos.
Na sexta-feira passada, o provedor não hesitou,
quando contactado pelo PÚBLICO, em dizer que "falar
nestas questões contribui às vezes para arranjar
pistas para resolver problemas". Mas logo a seguir
desabafou: "Para quem está no terreno por vezes isso
é muito insuficiente. Fala-se, fala-se, fala-se...
Em termos práticos há [depois] muito pouca coisa
realizada."