Público - 29 Abr 06

Governo pode aumentar taxa social única para poder dar incentivos à natalidade

Eunice Lourenço

Contribuintes que já tiverem ultrapassado a idade fértil não serão abrangidos

O Governo pode vir a aumentar o valor da contribuição dos trabalhadores para a Segurança Social, de forma a poder introduzir bonificações e agravamentos consoante o número de filhos. A redução da taxa social única para quem tem mais de dois filhos foi uma das medidas anunciadas anteontem no Parlamento, pelo primeiro-ministro, José Sócrates.
"Proporemos que a taxa contributiva dos trabalhadores varie, ainda que moderadamente, em função do número de filhos", disse o primeiro-ministro, que acrescentou: "Afinal, é da riqueza criada pelas futuras gerações de trabalhadores que resultará a garantia dos rendimento na velhice dos futuros pensionistas."
À margem do debate, o secretário de Estado da Segurança Social, Pedro Marques, explicou aos jornalistas que o valor central será os dois filhos; quem tiver três ou mais terá uma bonificação e quem tiver um ou nenhum sofrerá um agravamento. Contudo, esse agravamento pode ser inconstitucional por violar direitos adquiridos, além de ser questionável a sua aplicação "cega" - por exemplo, a contribuintes estéreis.
A solução ainda está a ser estudada, podendo o Governo vir a legislar sobre as contribuições e não sobre as penalizações. Ou seja, em vez de estabelecer um agravamento percentual aplicável a quem não tem filhos ou tem só um, pode aumentar a taxa social única e depois estabelecer uma bonificação por cada filho. Por exemplo, hoje a taxa social única é de 11 por cento, a que seria aplicável uma bonificação hipotética de um por cento a quem tem três filhos e uma penalização de um por cento a quem tem só um. Em vez de fazer isso, o Governo poderá aumentar a taxa social única para 13 por cento e depois dar uma bonificação de um por cento por cada filho.
O Governo não divulgou qual será o valor da bonificação - ontem, o ministro Vieira da Silva disse que será uma "modulação ligeira" -, pelo que um por cento é apenas uma hipótese para dar um exemplo, mas o valor deve ser mais baixo.
Além disso, este princípio de ligação entre a taxa social única e o número de filhos não será, contudo, aplicável a todo o universo de contribuintes, pois o Governo entende penalizar quem já ultrapassou a idade fértil. Ou seja, em mais um exemplo hipotético, contribuintes com mais de 50 anos e só um filho não terão alterações no valor da contribuição.

Fórmulas não são
definitivas
O ministro do Trabalho e da Solidariedade Social, José António Vieira da Silva, disse ontem que os pormenores desta e das outras medidas anunciadas no Parlamento serão anunciados no "devido tempo". À saída da sessão comemorativa do Dia Nacional da Prevenção e Segurança no Trabalho, Vieira da Silva garantiu que o Governo fez todos os cálculos necessários sobre estas propostas, mas admitiu que há "algumas precisões que podem ser melhoradas no diálogo social".
"Não são fórmulas definitivas", afirmou o ministro, citado pela agência Lusa, acrescentando que a não divulgação dos cálculos feitos "não é ocultação, mas respeito pelos parceiros sociais".
Na próxima semana, o ministro e o primeiro-ministro vão apresentar os princípios orientadores aos parceiros em sede de concertação social. E o primeiro passo será, precisamente, saber se a concertação social aceita os princípios enunciados por Sócrates. Só depois é que o Governo avançará com mais detalhes e propostas concretas.