Educa bem a crianças se não quiseres ter problemas
com os adultos
Pitágoras
1.
Na nossa vizinha Espanha o Governo, na esteira de
alterações legais sobre o casamento e a filiação
adoptiva, agora permitidos entre pessoas do mesmo
sexo, alterou algumas normas do registo civil,
substituindo os “ultrapassados” termos PAI e MÃE por
– imagine-se! – PROGENITOR A e PROGENITOR B…
No novo
formulário de livro de família, o Ministério da
Justiça fez assim desaparecer o significado
jurídico, social e humano de “ ser pai” e “ser mãe”,
avançando para uma “modernidade sem limites” com
aquelas novas expressões.
Imagino
já o que pode vir a suceder com o avanço
indiscriminado das novas formas científicas da
“procriação medicamente assistida”, um eufemismo
para situações em alguns casos eticamente
insustentáveis. Com as barrigas de aluguer, a
criação de embriões excedentários, a fecundação
heteróloga ou até a inseminação post-mortem,
as crianças poderão ver acrescentados nos seus
registos civis um terceiro, se não mesmo um quarto
progenitor: o C e o D! E, nos casos duvidosos,
sempre se pode arranjar, como se de uma equação
matemática com uma incógnita se tratasse, um
progenitor X.
Já agora,
por curiosidade, como se passará a chamar, por
exemplo, a uma até agora denominada avó materna?
Será a progenitora B do progenitor A? Ou a
progenitora A do progenitor B? Ou sénior A ou sénior
B? E por que não acabar, no registo civil, com o
vocábulo família e substitui-lo por “sociedade
anónima familiar”?
Se a
fúria dissolvente dos valores antropológicos
essenciais prosseguir, certamente iremos assistir à
renomeação da família, dos filhos e talvez tudo
venha a acabar em letras do alfabeto ou na
aritmética dos números, tipo matrícula de um
automóvel…
2.
Assim se caminha no Velho Continente que, anafado e
egoísta, se dedica agora a fragmentar os valores
superiores da sociedade e entre os quais o da
família é seguramente um dos mais importantes. Uma
Europa com mais progresso material e tecnológico e,
ao mesmo tempo, caminhando para um empobrecimento
espiritual que raia o absurdo.
Por
razões diferentes também há anos na China se
decretou o filho único por casal. Dentro de uma ou
duas gerações deixará lá de haver irmãos, tios,
primos, cunhados. A “família mínima garantida” na
China é o retrato da imposição do Estado
todo-poderoso sobre as famílias, as pessoas e a sua
individualidade.
Só falta
agora essa ideia monstruosa da clonagem reprodutiva
como o passo final para o puro e duro eugenismo e
para o aviltamento das relações humanas de
consanguinidade, maternidade e parentesco. Se nos
deixarmos arrastar por estes exercícios de ciência
sem humanidade e sem alma, não nos espantemos, como
há tempos escreveu a Comissão Pontifícia Pró Vita,
que, simultaneamente, “uma criança venha a ser gémea
de sua mãe, a faltar-lhe o pai biológico e ser filha
do seu avô!”
3.
A família tem tido ao longo da história da
humanidade crises de sustentação e de
reconhecimento. Mas, por mais voltas que se dêem,
ainda não se inventou outra forma de sociedade
básica melhor do que a instituição familiar.
Precisamente por ser a única que é natural, não
procede do direito positivo, antes a ele se impôs.
Por isso,
no respeito da diferença, deve ser respeitada,
protegida e promovida como fundamento da sociedade.
Para os
novos arautos do relativismo e do niilismo – para
quem tudo vale por nada valer – a família é vista
como um obstáculo. Por isso, com os ventos fáceis e
atractivos do hedonismo utilitarista, prosseguem o
caminho do enfraquecimento das referências
estabilizadoras da família, umas vezes larvarmente e
com falinhas mansas, outras vezes mais
despudoradamente.
No fundo,
querem uma “nova família” entre dois pólos, também
chamados de reivindicações da modernidade: o
individualismo e o Estado. Subjugada ao prazer, ao
circunstancial e ao consumismo.
Adocicada
e anestesiadamente, a cultura anti-família medra com
os nossos silêncios cobardes, o comodismo
individualista, a indiferença absurda e o alheamento
laxista.
Já falta
pouco para um dia destes, por cá ou pela Europa
abastada, se propor o fim da hedionda “burocracia”
do divórcio transformado numa rescisão unilateral de
um contrato comercial. Depois da “empresa na hora”
viremos a ter o “divórcio na hora”? Quem sabe se não
bastará, para um qualquer programa de
desburocratização, a simples comunicação à “outra
parte” por SMS ou, mais sofisticadamente on-line via
Net…
Triste
progresso!
Em tempo:
já depois de escrito este texto, parece que as
autoridades espanholas admitem recuar depois da
forte posição tomada por sectores da opinião pública
e pela Igreja. Ainda bem!