Diário de Notícias - 18 Abr 05
Eficácia da despesa em educação
Manuel Leite Monteiro
Professor da Católica
A Comissão Europeia divulgou, na
semana passada, um relatório da comissão de acompanhamento da chamada
"Estratégia de Lisboa" para a educação e a formação. Em termos gerais, este
relatório aponta para o conjunto dos países da União Europeia algumas
deficiências e identifica algumas áreas que exigem um esforço adicional para que
os objectivos delineados em 2000 no Conselho Europeu de Lisboa sejam alcançados
no prazo previsto. Particularmente preocupante é a situação de Portugal em
vários aspectos da qualidade do seu sistema educativo, quer em termos absolutos
quer por comparação com os demais países europeus.
De acordo com este estudo, as taxas de abandono escolar em Portugal são das mais
elevadas no espaço europeu. A percentagem da população portuguesa entre os 20 e
os 24 anos que apenas conclui o ensino básico é de quase 40%. Este valor apenas
é suplantado em Malta (45%), sendo em muito superior ao do terceiro país com
pior registo neste indicador (Espanha com 30%) e à média dos 25 países da União
Europeia (16%).
Uma outra medida deste abandono escolar refere-se à conclusão do ensino
secundário. Na "Estratégia de Lisboa" fixou-se o objectivo de, em 2010, 85% dos
jovens europeus com 22 anos terem completado o ensino secundário. Em termos da
média europeia, este objectivo está longe de ser alcançado (situou-se à volta de
76,5% entre 2002 e 2004). Se em Portugal este índice apresentou uma melhoria
assinalável neste período (quase 5 pontos percentuais), a percentagem de jovens
com o 12.º ano completo é ainda assustadoramente baixa 49%. Este indicador
apenas é mais negativo em Malta (48%), país que, contudo, exibiu o maior
progresso entre 2002 e 2004.
Se o abandono escolar é muito preocupante, a performance dos nossos
estudantes, comparativamente com a dos outros jovens europeus, não é menos. De
acordo com um estudo da OCDE de 2003 relativo à competência dos alunos com 15
anos em três áreas (leitura, matemática e ciências), Portugal apresenta um dos
mais baixos níveis de entre os países europeus. Em leitura, apenas a Eslováquia
e a Grécia apresentam valores mais baixos, sendo os nossos estudantes
comparáveis aos italianos e luxemburgueses. Em termos da competência em
matemática, são outra vez os gregos e os italianos que garantem que não ocupemos
o último lugar. Na área das ciências, os estudantes portugueses são, de entre
todos os da União Europeia, os com pior performance.
Mas, contrariamente ao que se poderia pensar, este panorama tão negativo não
resulta de despesas públicas em educação deficientes. De facto, o mesmo
relatório da Comissão Europeia mostra que estas medidas em percentagem do PIB
correspondem a quase 6% do produto interno bruto português, enquanto para a
média dos 25 países da União Europeia esta percentagem é apenas de 5%.
Uma análise mais pormenorizada das estatísticas apresentadas revela que apenas
os países escandinavos, a Eslovénia, a Lituânia e Chipre dedicam uma maior
proporção do PIB a despesas públicas no sistema educativo. Mas em todos estes
países os indicadores de qualidade do sistema educativo são superiores aos
nossos.
Este relatório, ao permitir a comparação dos custos da intervenção estatal na
educação com a performance dos sistemas de ensino, revela que em média os
outros países europeus fazem mais gastando menos, havendo muitos que com menos
despesa,atingem patamares de qualidade superiores aos de Portugal. Assim, este
estudo da Comissão Europeia apenas confirma que também na educação não é preciso
mais Estado, mas melhor Estado.
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