Público - 25 Abr 04

João, 40 Anos, Médico
Por B.W.

"Vou poder estar mais tempo com os meus filhos"

João (nome fictício) está convencido de que vai ganhar qualidade de vida com a separação de facto da mulher com quem vive há mais de dez anos. Quando casaram, convictamente pela Igreja, planearam ter uma família grande - o oitavo filho nasceu há 20 meses e João tem tudo menos uma vida fácil, diz.

"Não vejo os meus filhos porque trabalho muito, tenho semanas de 80 e 100 horas", descreve. João é médico e faz este tipo de horário para que a família mantenha um nível de vida condigno. "Se quiser ter um rendimento mensal de 500 euros por pessoa, como somos dez, preciso de ter 5000 euros. Como não há ordenados nesta ordem, tenho de trabalhar muitas horas", justifica. Os 500 euros por criança são justificáveis, já que os que têm idade para andar na escola frequentam uma instituição privada. Como são muitos, os pais optaram por um colégio onde podem estar todos, independentemente do ciclo que frequentam e com horário alargado, o que a escola pública não oferece.

João e a mulher estão a "criar filhos responsáveis, que estão a ser privados de muitas coisas". "Gostava de ir ao cinema, ao futebol, levar os mais velhos, mas é completamente impossível", lamenta o médico.

João ficou indignado quando, em 2002, foi surpreendido com o IRS que teria de pagar: 5700 euros, depois de ter feito a retenção devida ao longo do ano. "Para o Estado, o meu agregado familiar é muito rico e cobra-me pela medida grande", diz, revoltado.

Esta penalização levou João e a mulher a formalizar a separação de facto, embora continuem a viver juntos. "Estou casado pela Igreja, mas não quero que o Estado me reconheça enquanto casado." É assim em Espanha, acrescenta.

Os filhos não sabem de nada: "Mas eles vão notar a diferença, porque vou estar mais tempo com eles", justifica o médico. "Eu continuo casado, para todos os efeitos", acrescenta.

No próximo ano, não terá de pagar IRS e ainda será reembolsado. "Isto não é fuga ao fisco, é usar os meios legais que o Estado disponibiliza. O Estado é que incentiva as famílias a fazê-lo."

WB00789_.gif (161 bytes)