REALIZOU-SE na passada quarta-feira, nas
instalações da Assembleia da República e tendo como anfitrião o
seu presidente, dr. Mota Amaral, a apresentação pública do
relatório de investigação sobre «Família e Políticas Públicas».
Produzido no âmbito do Instituto de Estudos Políticos da
Universidade Católica Portuguesa, o relatório foi patrocinado
pela Associação Cristã de Empresários e Gestores, presidida pelo
dr. João Alberto Pinto Basto. Tive o privilégio de dirigir a
equipa de investigação constituída por Mestres Eugénia Nobre
Gambôa e José Tomaz Castello Branco.
O relatório parte da observação da realidade
portuguesa nos últimos trinta anos. Verifica o crescimento de
tipologias familiares alternativas como a coabitação e
monoparentalidade de mães sós. Em 1970, os nascimentos fora do
casamento constituíam 7,2% do total dos nascimentos. Em 2000,
essa percentagem aumentou para 22%. Neste mesmo ano, 85,5% das
mães sós viviam abaixo ou ao nível do limiar de pobreza.
Estes e outros dados nacionais, ainda
insuficientemente estudados, revelam grande similitude com a
evolução da família na Europa e nos EUA ao longo dos últimos 40
anos. O caso americano é sem dúvida o mais estudado e discutido,
sendo hoje consensuais os resultados aí observados. Por essa
razão, o relatório passa então em revista a experiência
americana.
E essa experiência é impressionante. Em 1960,
a percentagem de nascimentos fora do casamento era de 5,3%. Em
1999, essa percentagem passou para 33%.
Em 1999, 29% das mães sós tinham menos de 20
anos. Em 1985, 34% das famílias monoparentais matriarcais
estavam abaixo do limiar de pobreza, o que contrasta com apenas
6,7% das famílias biparentais. O rendimento médio anual de uma
família biparental equivale a mais do dobro de uma família
monoparental originada pelo divórcio e é quatro vezes superior
aos rendimentos médios auferidos por uma mãe solteira. Em 1996,
mais de dois terços dos beneficiários dos programas de auxílio a
famílias pobres com filhos eram mulheres solteiras à altura do
nascimento do primeiro filho, na sua maioria adolescentes.
Quanto aos efeitos da coabitação e
monoparentalidade sobre as crianças, os dados são devastadores.
Em 1988, quase metade (46%) das crianças que viviam em famílias
monoparentais matriarcais viviam na pobreza, o que contrasta com
os 9% das crianças pobres relativas às famílias biparentais com
os pais casados. A probabilidade de desistência do ensino
secundário é de 37% para as crianças nascidas fora do casamento,
contra 13% para aquelas cujos pais se mantêm casados. 72% dos
adolescentes homicidas, 70% dos presos de longa duração e 60%
dos violadores são oriundos de lares sem pai.
No debate da passada quarta-feira,
participaram, entre outros, os deputados Pina Moura e Maria do
Rosário Carneiro, da bancada socialista, e Patinha Antão, da
social-democrata, bem como José Manuel Fernandes, director do
«Público», e Henrique Monteiro, subdirector do EXPRESSO. Todos
sublinharam que há uma correlação muito forte entre a família
biparental casada e as oportunidades de vida, sobretudo das
crianças.