Público Online - 14 Abr 04
Comissão Parlamentar de Trabalho e Assuntos Sociais
PSD e PS defendem benefícios fiscais para pais casados
Lusa
Deputados do PSD e do PS defenderam hoje a atribuição de benefícios
fiscais às famílias compostas por pais casados e consideraram ser
este o modelo familiar que conduz a um maior sucesso pessoal e
profissional dos filhos.
"Os mecanismos fiscais são uma boa via de compensar e reconhecer as
famílias", declarou a deputada da bancada do PS Maria do Rosário
Carneiro, num seminário sobre família e políticas públicas
organizado pela Comissão Parlamentar de Trabalho e Assuntos Sociais.
A deputada independente, do Movimento Humanismo e Democracia,
referia-se às famílias compostas por pais casados, que disse
contribuírem para "gerar comportamentos funcionais" entre gerações,
ao contrário dos outros modelos familiares, que definiu como
"famílias não estruturadas" que considerou incapazes de "dar
competências" às crianças.
"É tempo de mudar de olhar em relação à fiscalidade, considerando o
investimento dos pais no futuro dos filhos", concordou o deputado do
PSD Patinha Antão, referindo-se igualmente às famílias com "dois
progenitores casados" que considerou "o modelo, não ideal, mas
referência".
"Não é adequado tentar transformar todas as famílias neste modelo,
mas os que o conseguem parecem amplamente recompensados",
acrescentou o social-democrata, apontando os dados de um estudo
sobre o assunto realizado pelo Instituto de Estudos Políticos da
Universidade Católica Portuguesa, que serviu de base ao debate.
De acordo com o estudo, baseado na experiência familiar norte-
americana dos últimos 30 anos, "as crianças criadas em famílias
biparentais casadas", em comparação com outras tipologias
familiares, "completam mais anos de escolaridade, conseguem níveis
de rendimento mais elevados" e "aparentam ter uma maior
probabilidade de não caírem na delinquência juvenil".
O estudo, da responsabilidade do professor universitário João Carlos
Espada, conclui também que a monoparentalidade conduz a níveis mais
elevados de criminalidade e delinquência juvenil, de abandono e
insucesso escolar e reflecte-se nos padrões de comportamento
familiares futuros das crianças.
"Optámos por usar números incontestáveis, que são os
norte-americanos. Trata-se de informação absolutamente segura, que
foi confrontada ao longo de 30 anos", salientou João Carlos Espada,
explicando que não existem dados sobre a realidade portuguesa que
permitam uma análise de longa duração, mas adiantando que em
Portugal se observam "tendências muito semelhantes" às ocorridas nos
EUA.
"Nenhuma relação de causalidade é aqui sugerida. Falamos apenas de
grandes números e de grandes probabilidades, repetidas e confirmadas
ao longo dos últimos anos", afirmou.
"Os números não podem ser negados", defendeu, no entanto, João
Carlos Espada, criticando alguns valores dominantes da sociedade
actual por "exercerem uma pressão, quase uma chantagem emocional e
intelectual, contra a família" composta por pais casados.
"É necessário travar uma batalha ideológica sobre a importância do
valor da família na criação do tecido social", sustentou também o
deputado do PS e presidente da comissão de trabalho e assuntos
sociais Joaquim Pina Moura.
"Há uma corrente forte nas ideias contemporâneas - com muita
expressão na comunicação social - no sentido contrário", criticou
Pina Moura, contestando a ideia de que "o compromisso é traição" e
"a nostalgia da adolescência perdida traduzida na acção política".
O ex-ministro das Finanças e da Economia concordou que "a política
fiscal de apoio à família e à natalidade é uma boa opção" mas
advertiu que esses benefícios fiscais aos pais casados "devem
obrigar à diminuição de outros, porque não é tudo acumulável".
O director do jornal PÚBLICO, José Manuel Fernandes, e o
sub-director do semanário "Expresso". Henrique Monteiro,
afirmaram-se também favoráveis a alterações das políticas públicas
relativas à família que beneficiem os pais casados, nomeadamente a
nível fiscal, e defenderam o modelo do casamento estável como aquele
que conduz à realização pessoal e resolve "boa parte das chagas
sociais".
"A felicidade passa por projectos de vida de longo prazo, mas o que
está na moda é o prazer", criticou José Manuel Fernandes, enquanto
Henrique Monteiro contestou a ideia de que "constituir família e
criar filhos não tem mérito e de que o passado é obscurantista e
sempre pior que o presente".
"Por que é que as pessoas não se casam? Esta é que é a questão
cultural que está por responder", acrescentou o sub-director do
"Expresso", admitindo não ter resposta para essa pergunta.
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