Diário de Notícias - 8 Abr 04
Governo paga a jovens sem ensino obrigatório para voltarem à
escola
JOÃO PEDRO OLIVEIRAMARIA JOSÉ MARGARIDO
Todos os jovens até aos 18 anos, sem excepção, que começaram a
trabalhar sem ter completado a escolaridade obrigatória poderão
candidatar-se a uma bolsa estatal para regressar ao sistema de
ensino e terminar os seus estudos. O apoio é renovável durante os
anos necessários à conclusão do 9.º e deverá entrar em vigor já no
próximo ano lectivo, sendo concedido através do Instituto do Emprego
e Formação Profissional (IEFP).
O anúncio foi ontem feito pelo ministro da Segurança Social e do
Trabalho, Bagão Félix, na apresentação do novo Plano Nacional de
Prevenção do Abandono Escolar (Pnapae), elaborado em parceria com o
Ministério da Educação. Em declarações ao DN, Bagão Félix revelou
ainda que as mesmas bolsas serão disponibilizadas para os menores de
idade que, «mesmo tendo concluído o ensino obrigatório, não tenham
frequentado nenhum curso profissional», cuja duração pode ir de um a
três anos.
A ideia é recuperar os adolescentes para o mundo dos estudos e
convencer as entidades patronais dessa vantagem. Para tal, o Governo
não impõe um limite de beneficiários para estas bolsas, que se
destinam, essencialmente, «a compensar o jovem da parte do salário
que perde ao passar do regime de trabalho em full-time para o
part-time», explica o ministro. Esse tempo parcial de que os menores
passam a beneficiar, conjugado com o emprego, não pode ultrapassar
as 40 horas semanais.
As bolsas variam de acordo com os rendimentos do respectivo agregado
familiar: «o apoio é dado a 100% se o orçamento familiar for igual
ou inferior ao salário mínimo nacional. É facultado em 40% se esse
mesmo rendimento for de 1780 euros [cinco vezes o salário mínimo]»,
refere Bagão Félix. A medida, que em concreto não consta do plano
nacional ontem apresentado, encontrava-se já prevista desde a
concertação social de 1991, embora nunca tenha sido regulamentada.
Entre as propostas do documento encontram-se, porém, outras que
concorrem no mesmo sentido, como seja a transfererência de parte das
acções de formação profissional ministradas nas empresas para uma
escola ou centro de emprego, sempre que essa formação contemple uma
componente escolar.
RESPONSABILIZAÇÃO DOS PAIS. Mas o combate à entrada precoce no
mercado de trabalho - uma das linhas de intervenção fundamentais
deste Pnapae - vai mais longe. No texto ontem apresentado, propõe-se
mesmo a « definição de uma moldura legal com penalizações aos
pais/encarregados de educação pelo incumprimento da escolaridade
obrigatória dos seus filhos/encarregandos». Simultaneamente, os
ministros prometem «uma campanha nos meios de comunicação social
para a não contratação de jovens não qualificados, dirigida aos
meios empresariais».
APOSTA NO PROFISSIONAL. Outra das linhas essenciais do plano é o
reforço do ensino profissional. Para além da duplicação de vagas,
até 2010, dos cursos de ensino profissional e tecnológico de nível
secundário- «a um ritmo desejável de 10% ao ano» -, prevê-se o
alargamentos da oferta dos cursos profissionalmente qualificantes
(do chamado nível II) que, a partir de 2005/2006, estarão ao alcance
de todos os alunos maiores de 14 anos. Porque, garante Bagão Félix,
os cerca de 30 mil estudantes do ensino profissional têm emprego
garantido. O que nos permite realizar um outro cálculo: no espaço de
seis anos, o Ministério da Educação pretende elevar para 60 mil os
jovens a estudar nesta via de ensino.
Uma aposta na promoção de quadros médios, «com qualificação técnica
e tecnológica diferenciada» - que passará também, lembra David
Justino, pela criação, até 2006, de uma rede de 15 a 20 escolas
públicas de referência, identificadas por projectos inovadores de
educação/formação. Estabelecimentos que estarão particularmente
vocacionados para cursos de especialização tecnológica.
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