Público - 7 Abr 04
Acidentes na Estrada Matam Três Mil Pessoas por Dia
Por SOFIA RODRIGUES
Os acidentes de viação matam 1,2 milhões de pessoas e causam
ferimentos ou inutilizam mais de 50 milhões de indivíduos todos os
anos, de acordo com um relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS)
e do Banco Mundial (BM), que é divulgado hoje. No Dia Mundial de
Saúde, dedicado este ano à segurança rodoviária, a OMS adverte que
as mortes nas estradas podem aumentar 80 por cento em 2020 em certas
regiões do globo, se o problema continuar a ser ignorado, e propõe
medidas concretas para combater o flagelo mundial.
Todos os dias morrem mais de três mil pessoas de acidentes de viação
no mundo inteiro, de acordo com as estatísticas da OMS. A
sinistralidade é a segunda causa de morte de pessoas entre os cinco
e os 29 anos e a terceira nos indivíduos entre os 30 e os 44 anos, à
escala mundial. No conjunto de todas as idades, os acidentes de
viação são a 11ª maior causa de morte, logo atrás da malária e do
cancro das vias respiratórias, diz o relatório das duas organizações
internacionais que pretendem chamar a atenção para o drama.
"Milhares de pessoas morrem nas estradas de todo o mundo todos os
dias. Não estamos a falar de eventos casuais ou acontecimentos
acidentais. Estamos a falar de acidentes de viação. Os riscos têm de
ser compreendidos e por isso podem ser evitados", declarou o
director-geral da OMS, Lee Jong-wook. "Temos os conhecimentos para
agir agora. É uma questão de vontade política", acrescentou o
dirigente da agência, que, pela primeira vez, escolheu a segurança
rodoviária como tema do Dia Mundial de Saúde.
Os acidentes rodoviários têm também um custo económico e social
significativo: 518 mil milhões de dólares à escala mundial, o que
representa nos países entre um e dois pontos percentuais do produto
interno bruto.
Nos países em desenvolvimento, esse custo económico directo é
estimado em 65 mil milhões de dólares, "ultrapassando a totalidade
da quantias recebida por estes países em ajuda ao desenvolvimento",
sublinha o documento.
"É um problema de saúde pública enorme e negligenciado", afirma o
perito da OMS Etienne Krug, director da área de prevenção da
violência e ferimentos da agência.
Os esforços empregues actualmente em matéria de segurança rodoviária
"não estão à altura da gravidade do problema", sublinha o relatório.
Em todo o mundo, são consagrados entre 24 milhões e 33 milhões
de dólares ao financiamento da pesquisa de segurança rodoviária, ou
seja, 30 vezes menos do que a quantia destinada à luta contra a
sida.
Em 2020 morrerão 2,3 milhões
O drama da sinistralidade atinge mais os países pobres ou em
desenvolvimento, que actualmente são responsáveis por 85 por cento
das mortes ocorridas em todo o mundo.
Na China e no continente africano, espera-se que as mortes por
acidente subam 80 por cento em 2020. Nessa altura, os acidentes irão
provocar, em todo o mundo, a morte de 2,3 milhões de pessoas por ano
e serão a terceira causa de morte depois das doenças do coração e da
depressão.
Nos países ricos, os condutores e os passageiros são os indivíduos
com maior risco de ferimentos ou morte, ao passo que nos países
pobres ou em desenvolvimento as pessoas mais vulneráveis são os
peões, ciclistas, motociclistas e utilizadores de meios de
transporte público. É o caso do Quénia, onde 42 por cento das três
mil pessoas que morrem por ano são peões e outros 38 por cento são
passageiros de transporte público.
A OMS aponta algumas boas práticas lançadas por países mais
desenvolvidos como a Suécia e a Holanda no combate à sinistralidade,
mas também elogia os casos da Colômbia, Costa Rica, Gana e
Tailândia. A Colômbia reduziu o número de mortos ao melhorar o
transporte público e o Gana reduziu 35 por cento a mortalidade nas
estradas ao colocar bandas sonoras, entre outras medidas de controlo
da velocidade.
No relatório de 200 páginas, a OMS e o BM apelam à mobilização de
governos, indústria e organizações não governamentais, bem como à
participação de pessoas de diferentes disciplinas desde engenheiros
de estradas, "designers" de veículos, autoridades responsáveis pela
aplicação da lei e profissionais de saúde.
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