Público - 28 Abr 03
Governo Britânico Inicia Pé-de-meia para Recém-nascidos
Por CATARINA GOMES, Londres
O Governo britânico vai iniciar um fundo de poupança que pode ir até 500 libras
(cerca de 800 euros) para cada bebé nascido no Reino Unido a partir de Setembro
deste ano. A medida pretende incentivar os pais a começarem desde cedo a poupar
para os seus filhos. O dinheiro só poderá ser usado quando os jovens completarem
18 anos e privilegia as crianças de famílias desfavorecidas.
Os pais dos bebés não poderão usar o dinheiro para outros fins e serão
incentivados, através de um sistema de benefícios fiscais, a reforçar a quantia
anualmente até um valor de mil libras por ano (cerca de 1600 euros). O Governo
pretende que a conta seja usada sobretudo no pagamento de propinas da
universidade - actualmente os estudantes saem da universidade com dívidas que
rondam as 11 mil libras (cerca de 18 mil euros) - e na entrada para a compra da
primeira casa. Embora este pormenor ainda não esteja acertado, os pais deverão
ter uma palavra a dizer sobre o destino do dinheiro quando os filhos atingirem
os 18 anos.
Gordon Brown, o Chanceler do Tesouro (cargo equivalente ao ministro das
Finanças), anunciou este mês que todos os bebés terão direito a um valor mínimo
de 250 libras (cerca de 450 libras), mas serão as crianças de famílias mais
desfavorecidas a receber o maior empurrão dos cofres do Estado: 500 libras.
Estima-se que um terço dos cerca de 700 mil bebés nascidos em cada ano estarão
habilitados a receber esta contribuição máxima. "Todos irão beneficiar, mas
beneficiarão sobretudo os que mais precisam", disse Brown durante a apresentação
do orçamento no Parlamento.
Ainda não são conhecidos todos os pormenores sobre o funcionamento da medida,
que já havia sido anunciada em 2001, mas prevê-se que só esteja no terreno por
volta de 2005. Para além de fazer o pagamento inicial, o Governo pretende
reforçar o fundo quando as crianças atingirem as idades de 11 e 16 anos, em
valores que poderão andar entre as 50 e 100 libras (cerca de 80 e 160 euros,
respectivamente), dependendo do salário dos pais.
Associações que trabalham no sector da luta contra a pobreza infantil consideram
a medida positiva, mas lamentam que não tenha havido reforços no orçamento para
lidar com a pobreza infantil no presente. Martin Barnes, director do Child
Poverty Action Group (Grupo de Acção contra a Pobreza), reiterou, em declarações
à BBC "online" que "o passo é bem vindo, mas nada faz para lidar com o problema
actualmente". "Gostaríamos de ter visto o chanceler anunciar um aumento para
fundos para ajudar as famílias mais pobres agora."
O Governo tem como meta oficial a redução dos números da pobreza infantil em
metade até 2010 e pretende erradicar o fenómeno no prazo de uma geração. Barnes
defende que o Governo se prepara para falhar a sua primeira meta já em 2004-05,
uma vez que não vai conseguir reduzir a pobreza infantil num quarto, como
pretendia. Vai ser gasto um total de 350 milhões de libras (cerca de 560 milhões
de euros) anualmente, mas Gordon Brown afirma que, se houver um esforço
familiar, muitos jovens terão o seu futuro mais facilitado.
Um estudo da Virgin Money estima que as 500 libras iniciais poderão
transformar-se em 1410 libras (cerca de 2300 euros) aos dezoito anos da criança,
a um crescimento de sete por cento ao ano. Se os pais e avós fizerem
contribuições regulares de dez libras por mês, o pé-de-meia poderá chegar às
5210 libras (cerca de oito mil euros) no mesmo período.
O Governo estabeleceu um tecto máximo de reforço de mil libras por ano para
evitar que os mais ricos usem a medida para obter benefícios fiscais. Ainda não
está decidido como é que o dinheiro será aplicado, mas o investimento em acções
parece estar fora das intenções do Governo, depois de três anos de quedas nos
mercados.

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