Público - 7 Abr 03
Governo Acaba com o Imposto Sucessório e Muda Sisa
Por EUNICE LOURENÇO
O Governo vai acabar com o imposto sucessório e substituir a sisa e a
contribuição autárquica por dois novos impostos: o imposto municipal
sobre as transacções (IMT) e o imposto municipal sobre
imóveis (IMI). Essas alterações foram anunciadas, ontem,
pelo primeiro-ministro, Durão Barroso, em Fronteira
(distrito de Portalegre), no final do Conselho de Ministros
extraordinário com que assinalou o primeiro aniversário do Governo.
A par dessas alterações, que Durão salientou serem "graduais" - "Não
queremos fazer reformas radicais ou bruscas" -, irá sendo feita a
actualização das matrizes prediais.
O processo será "simultâneo", esclareceu, e terá início a 1 de Janeiro do
próximo ano. O Governo pretende levar estas medidas ao Parlamento, sob a
forma de autorização legislativa e não de proposta de lei, ou seja,
apresentará as linhas gerais do que pretende fazer e não a própria lei.
"Esta é uma reforma séria de que há muito se fala e que sempre se adiou",
disse Durão Barroso, rejeitando que, em matéria de sisa e de contribuição
autárquica, se trate de uma mera alteração nos nomes dos impostos.
O primeiro-ministro afirmou que a diminuição das taxas não levará à redução
da receita fiscal - que, neste caso, vai para os municípios -, porque,
acredita, as medidas apresentadas vão combater a fraude e a evasão
fiscal, acabando com as declarações de falsos valores.
"Se as pessoas pagarem mesmo estas taxas em relação a
valores reais, não haverá redução da receita",
acrescentou Durão, salientando que o Governo pretende, com estas medidas,
maior descentralização e maior responsabilização das câmaras na fixação
das taxas e na arrecadação da receita.
Dez ilícitos fiscais por dia
Questionado sobre se as razões da recente remodelação - Isaltino Morais
demitiu-se depois da divulgação pelo "Independente" de que tinha contas
na Suíça não declaradas ao fisco - não enfraqueciam o
Governo no combate à fraude e evasão fiscal, Durão
respondeu que "do ponto de vista político, o Governo fez
o que havia a fazer". E garantiu: "É reforçada hoje a
credibilidade do Governo para tomar estas e outras medidas."
Já do ponto de vista pessoal, o primeiro-ministro disse que cabe a Isaltino
de Morais esclarecer e regularizar a sua situação. A propósito da reforma
dos impostos sobre o património, o agora ex-ministro tinha defendido,
recentemente, a aplicação de um imposto único. O Governo optou por manter
dois impostos.
Durão aproveitou ainda para informar que o Governo envia para os tribunais,
"em média por dia", dez participações "em matéria de ilícito fiscal".
Na sua intervenção inicial, Durão não tinha feito qualquer referência à
remodelação que ainda está em curso. Ontem, os novos ministros - Amílcar
Theias, no Ambiente e Cidades, e Carmona Rodrigues, nas Obras Públicas -
já estiveram no Conselho e Ministros e na foto de
família, mas só hoje ou amanhã deverão ser conhecidos os
nomes de todos os seus secretários de Estado.
José Eduardo Martins e Miguel Relvas devem manter-se no Ambiente e Poder
Local respectivamente; Vieira de Castro e Jorge Costa também são dados
como continuando nas Obras Públicas e na Habitação. A
Secretaria de Estado dos Transportes pode mudar de
titular, mas permanecerá como pasta do CDS.
Durão Barroso ainda não terá tomado a decisão final sobre a mudança e mais
nomes, estando portanto em aberto a remodelação de secretários de Estado
de outros ministérios.
Ontem, ministros e secretários de Estado estiveram todos reunidos e, juntos,
posaram para a foto de família sob os aplausos da população de Fronteira.
A todos o primeiro-ministro disse ter pedido que não
governassem a pensar nas sondagens. E afirmou mesmo estar
"preparado para lidar com valores muito mais negativos"
do que os índices de descontentamento actuais.
Durão justificou a viagem àquela vila alentejana com a prática da
descentralização e aproveitou para garantir que os projectos do Alqueva,
do complexo de Sines e do aeroporto de Beja estarão
concluídos nos prazos previstos. Anunciou ainda que o
troço do IC13 entre Alter do Chão e Portalegre será
lançado este ano, assim como os estudos para a Barragem do
Pisão, para que o concurso seja feito em 2005.

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