Prémio e castigo
A educação é de uma importância
transcendental e de grande responsabilidade para os pais. Há no mundo muitos homens que
se lamentam de desgraças devidas a faltas e descuidos dos seus pais.
Em educação, como em tudo na vida, recolhe-se aquilo se semeou. É necessário inculcar
nas crianças - gradualmente, à medida que elas vão sendo capazes de assimilar - a
limpeza, a ordem, a obediência, o sacrifício, a lealdade, o espírito de serviço, a
honradez, o saber renunciar, etc. etc.
E habituá-los a portarem-se bem em todos os lugares, a praticarem o bem embora seja
penoso, a fugirem do mal ainda que seja sedutor, (...) espontaneamente e por iniciativa
própria, mesmo que ninguém vigie nem castigue.
Quando forem mais velhos, será muito difícil que adquiram virtudes que não foram
semeadas neles quando eram pequenos.
As crianças, para seu bom desenvolvimento, precisam de carícias desde a primeira hora.
Fizeram-se estudos e verificou-se que crianças atendidas perfeitamente nas suas
necessidades vitais, em centros especializados, mas com falta de carinho, mostraram
anormalidades características.
Crianças mimadas
Os filhos não se podem ter mimados. A criança mimada torna-se caprichosa e pouco
sociável. Isto há-de trazer-lhes problemas de aceitação entre os companheiros na
escola, e irá dificultar a sua maturidade psicológica. Está comprovado que a criança
que é bem aceite pelos companheiros, pelas suas qualidades pessoais, tem uma grande
percentagem de probabilidade de um bom amadurecimento psicológico no futuro.
Os filhos não se podem ter mimados, mas também não os devemos castigar sem razão. O
castigo é inevitável, pois é moralmente impossível que os teus filhos não cometam
alguma falta que o requeira: "Sem castigo não há educação possível", afirma
um dos mais célebres pedagogos da nossa época, Foerster.
Para que o castigo seja educativo e eficaz deve ser sempre:
a) Oportuno: escolhendo o momento mais propício para o impor, depois de passada a ira em
pais e filhos.
b) Justo: sem exceder os limites do que é razoável.
c) Prudente: sem nos deixarmos levar pela ira.
d) Carinhoso na forma: para que a criança compreenda que o castigo lhe é imposto para
seu bem. Não somos eficazmente castigados senão por aqueles que nos amam e a quem nós
amamos.
O castigo corporal
O castigo corporal tem as suas dificuldades. Pode gerar revolta, rancor, diminuição do
sentimento de honra. As crianças nervosas não deviam ser castigadas corporalmente, pois
corre-se o risco de aumentar o seu nervosismo. Nas meninas, o castigo corporal debilita o
sentimento da intocabilidade corporal, tão precioso para o recato da sua vida futura. Por
vezes pode ser mais eficaz do que o castigo corporal pô-lo a comer sozinho numa mesinha,
virado para a parede, ou privá-lo de uma manifestação de carinho habitual, ou de um
doce que lhe agrade, ou do dinheiro que se lhe costuma dar. Depende de idades e de
circunstâncias.
O castigo
O castigo deve facilitar à criança o caminho da honradez, da obediência, da
aplicação, etc., para fazer dele um homem moral. O castigo, mais do que para pagar pela
falta cometida, deve servir para a correcção. Para que assim seja, não é necessário
que a criança reconheça a falta e a justiça do castigo. O castigo tem muito mais valor
quando a criança o aceita voluntariamente, ou quando é ele mesmo quem o impõe. Depois
de aplicado o castigo, devem ser feitas as pazes com a criança logo que for possível.
É preciso ter tacto para corrigir com eficácia. Pouco se consegue com apenas ferir e
humilhar. É preciso animar. Despertar o sentido da própria estima. Uma correcção
eficaz deve deixar sempre aberta uma porta à esperança de superação.
Se o deixarmos fazer o que quiser, um dia mais tarde ele interpretará isso como falta de
interesse nosso pelo seu bem. Pelo contrário, se o contrariamos manifestando que o
fazemos por amor e interesse por ele acabaremos por conquistar-lhe o coração. Dizer:
amo-te demasiado para permitir que faças isso, ou termos um carinho com ele depois de um
castigo, restabelece a harmonia.
O amor deve estar por cima das travessuras. Uma mãe, depois de castigar o filho,
disse-lhe: "Não estou furiosa contigo, mas com a tua travessura". E o filho
agradeceu-lhe aquele castigo.
O prémio
Se é importante para uma boa educação saber manejar o castigo, não o é menos saber
utilizar o prémio; por exemplo, o elogio.
A recompensa pedagógica pode revestir-se de muitas formas: um olhar de aprovação, um
gesto carinhoso, uma palavra, a concessão de uma autorização desejada, uma prenda, etc.
Mas também não devemos ser excessivos nos prémios e louvores, pois perderiam eficácia
e correr-se-ia o perigo de tornar a criança egoísta, levando-a a fazer o bem apenas com
intenção de ganhar o prémio e a recompensa.
O estímulo é mais eficaz que a repreensão. Por vezes esta será inevitável, mas a sua
eficácia será maior se o filho está habituado a que se lhe reconheça a obra bem
realizada, a que lhe aplaudamos o esforço realizado, embora estes esforços nem sempre
tenham sido coroados pelo êxito. Todas as pessoas ficam agradecidas a quem sinceramente
as anima. Um elogio correcto, justo, oportuno, estimula e educa para o bem.
Toda a arte da pedagogia consiste em saber sorrir e dizer NÃO aos filhos no momento certo
e da maneira exacta.
Ordens e obediência
Antes de dares uma ordem, pensa se ela é conveniente. Não mandes muitas coisas seguidas,
e nunca mandes coisas contraditórias. O pai e a mãe devem estar sempre de acordo no que
respeita a ordens e castigos. Nunca se devem contradizer um ao outro. E as ordens devem
ser claras, de forma a que a criança as entenda. E bem descritas nos seus detalhes: prazo
de tempo em que deve realizar-se, resultado que se pretende, etc. Por exemplo: arruma a
casa de banho depois de tomares banho. Verificar que se entende "ao terminar o
banho", e não à meia-noite; "tudo limpo", e que não basta recolher a
roupa suja, etc.
Não se lhes deve dar demasiadas ordens. Nem proibir-lhes coisas de nada. O psico-pedagogo
Dr. Luís Riesgo afirmou: "Não devemos fazer montanhas das colinas". Ser
transigentes nas pequenezes. Em toda a pedagogia familiar vale mais ganhar uma batalha
importante do que cem escaramuças sem importância.
É preciso deixar sempre aos filhos um campo de autonomia. Não te esqueças de que a
criança precisa de se auto-afirmar.
Procura não mandar coisas demasiado difíceis. Mas, depois de a ordem ser dada, que seja
cumprida. Se a criança conseguir impor a sua vontade uma vez, não o esquecerá, e sempre
tentará consegui-lo de novo. A criança deve saber que há ocasiões em que são inúteis
os choros e os gritos. E tu, pelo teu lado, cumpre também as recompensas e os castigos a
que te comprometeste. São desorientadores para as crianças, e fatais na educação,
esses pais que mandam, ameaçam e prometem muitas coisas... e depois não transformam nada
disso em realidade, sem nenhuma razão justificativa: o castigo anunciado não se deve
suprimir sem uma causa.
Mas é preciso ter cuidado para que o castigo não corresponda ao nosso mau humor, mas sim
à gravidade da falta e à responsabilidade da criança. Depois de a criança ter
reconhecido a culpa, e de o castigo ter sido aceite, é muito pedagógico diminuir este
com a promessa de emenda.
(Jorge Loring, "Para Salvarte" - Catholic Net)