Corpos sãos e alma sã

 

"Educar para a saúde?  Pois evidentemente! Mas é pouco. Educar para se ser Homem e Mulher de corpo são e de alma sãs era mais correcto."

(in "Família é")

  

Há uma grande preocupação, e ainda bem por parte de um número significativo de pais para que os seus filhos gozem de boa saúde. As vacinações estão em dia. Não faltam preocupações com a alimentação (às vezes, até, em excesso). Os meninos e meninas praticam actividades de desenvolvimento físico (judo, ballet, basquetebol, etc). Muitos pais têm cuidado  em ter um pediatra para os filhos. Na realidade, hoje, há grandes cuidados e atenção ao crescimento saudável das crianças e jovens. Pelo menos até à adolescência (depois parece-me que a negligência e abandono, por distracção, são cada vez maiores!)

É de louvar, pois, os pais que se preocupam com estes e outros aspectos do bom desenvolvimento físico da sua prole. Mas, por aquilo que me é dado observar,  parece-me que no plano do desenvolvimento psíquico e afectivo, há enorme deficiência. Muitas crianças e jovens crescem e desenvolvem-se num clima de rixa parental empobrecedora e distorcedora dos afectos. Não se cultiva o desenvolvimento correcto e absolutamente indispensável da assertividade  (que as crianças e jovens saibam dizer sim e não quando o devem fazer). Por isso, encontram-se tantos jovens incapazes de saber defender-se, sem recurso à violência física e/ou psíquico, face à pressão dos seus pares (situação particularmente sensível na adolescência). Um número significativo de jovens têm uma auto-estima muito pobre ou uma auto-confiança  periclitante. À medida que se aproximam do final dos estudos secundários, solta-se uma competição desenfreada ... Estes, entre outros vectores do crescimento pouco harmonioso do ponto de vista psicológico, indicam um desleixo, desatenção e desinteresse parental.

Do ponto de vista da alteridade e integração social, também há algumas evidências negativas que se podem explicar pela negligência dos pais no que concerne às actividades grupais (inserção em grupos juvenis, por exemplo). É já um lugar comum dizer-se e constatar-se que a violência e a criminalidade juvenil estão a aumentar. Estes, são sintomas de que algo correu mal na educação de muitas crianças e jovens.

Há, igualmente, um défice muito grande em muitos jovens, relativamente à sua vivência norteada de valores espirituais. De facto, não se procura promover a Beleza da Vida, a harmonia do Universo, as "sonoridades" da Natureza, o altruísmo ou valores religiosos sérios e profundos.

Voltando ao princípio : educar para a saúde? Pois, claro. Desde que o Homem (homem e mulher) se compreenda, entenda e eduque na pluralidade convergente dos vectores biopsicossociais e espirituais que o definem.

 

Carlos Aguiar Gomes

Presidente da Associação Famílias