Senhores Grandes:
Nós estamos a ver se nos organizamos para nos ajudarmos uns aos
outros, sermos bons, vivermos felizes e nos defendermos dos maus,
mas como copiamos e imitamos tudo o que os grandes fazem e os
grandes não se entendem, nós também ainda não sabemos como é que
isso se faz.
Parece que é preciso Educação.
Podiam dar-nos uma boa Educação, se faz favor, actuando e
comportando-se de forma educada?
Senhores Grandes:
Nós queríamos pedir para não gritarem tanto e para viverem em paz,
uns com os outros, se faz favor, porque senão, com tantas guerras,
bombas e tiros, nós não conseguimos nem tempo, nem cabeça, para a
nossa principal obrigação: brincar.
Vocês metem-nos muito medo!
Podiam parar com isso, se faz favor?
Senhores Grandes:
Nós queríamos pedir que tivessem mais tempo para nós, que brincassem
mais connosco e se rissem com as nossas brincadeiras e cantigas, em
vez de fugirem de nós e nos meterem todo o dia numas casas chamadas
“creches”, arrancando-nos da nossa caminha ainda de madrugada, e nos
atafulharem de roupas caras e brinquedos complicados, ou com
programas de televisão e vídeos idiotas e barulhentos.
Podiam antes, sentar-se aqui a brincar no chão, assim baixinhos como
nós, se faz favor?
Senhores Grandes:
Nós queríamos pedir outras horas de trabalho diferentes para as
nossas mães e pais, para eles não correrem tanto (é feio andar aí a
deitar a língua de fora, pois é?), para eles andarem mais
sorridentes, mais alegres e menos cansados e chegarem a casa com
vontade de nos darem colinho e nos levarem mais vezes aos balouços,
aos jardins, aos campos e às praias...
É que as flores, a relva e as conchas estão todas à nossa espera e
ficam tristes se não lá vamos falar com elas.
Os grandes percebem?
Senhores Grandes:
Nós sabemos que, se não acabamos depressa, vocês não vão acabar de
ler, nem ouvir- como sempre acontece- porque vocês são muito
importantes e têm sempre muitas coisas urgentes para fazer:
biscates, compras, conferências, trabalhos, entrevistas, festas,
telejornais e novelas para verem e muitos papéis e jornais para
lerem.
Mas queríamos pedir, se faz favor, a todos, e principalmente às mães
e pais, que nos liguem mais, que nos cuidem melhor, que nos protejam
de todos os perigos, que nos digam o que se pode e deve fazer e o
que não se pode nem se deve fazer.
Queríamos pedir também, que ficassem para sempre, para sempre,
connosco (como aqueles pais e mães que parecem colados com cola UHU
e por isso nunca fogem dos filhos, nem um do outro, nem saem de
casa), para nos darem a mão quando temos medo, para nos darem a sopa
de espinafres e os remédios amargos, contando e lendo histórias
velhas sempre novas, para nos darem banhos muito divertidos e,
rezando connosco (como fazem os avós), nos meterem na cama, antes
que venham os papões e os lobos maus...percebem?
Por favor, mães e pais, não vão embora da nossa casa!...
Senhores Grandes:
Nós já vamos acabar, mas a gente queria pedir que tratassem melhor
da terra e do mar, das plantas e animais, das cidades e dos campos,
das casas e jardins, do teatro infantil e da música, dos velhinhos e
também dos meninos de todas as cores, cheiros e tamanhos, que não
têm pai nem mãe, ou que têm umas famílias muito esquisitas que não
gostam deles e depois vão para casas muito grandes, com muitas
pessoas grandes e pequenas e algumas até lhes fazem muito mal...
Nós só queríamos lembrar que, às vezes, até ficamos doentes, muito
doentes mesmo, e até morremos de desgosto, porque vocês andam todos
muito ocupados com os Direitos das crianças, dos velhos e dos
Grandes, com os negócios e com os partidos (já agora, porquê que
eles se chamam “partidos”: porque nunca estão “inteiros”?) Olhem que
não fomos nós que os partimos! É verdade! Acreditem, que a gente
nunca mente, porque dizer mentiras é muito feio, pois é?...
Senhores Grandes:
Lembrem-se de nós, que nós prometemos que, quando formos Grandes,
também nos vamos lembrar de vocês, quando vocês, porque muito mais
velhos, forem crianças outra vez.
Desculpem, senhores Grandes, não queríamos roubar o vosso tempo,
porque roubar é muito feio, pois é?
Obrigadas,
As crianças
PS. Só mais uma coisinha: os Senhores Grandes podiam limpar, se faz
favor, um bocadinho mais o ar, as televisões, as revistas e os
jornais, mais os anúncios, enfim tudo o que respiramos?
E, já agora, algumas das ideias que proclamam?
É que está tudo tão sujo, que é uma vergonha, pois é?
E sujar é feio, pois é?
As crianças agradecem.