Associação Famílias - 24 Jan 03
A propósito da revisão curricular
O senhor Ministro da Educação, David Justino, na apresentação das
"linhas orientadoras da revisão curricular" faz um apelo à participação
de todos, nomeadamente às associações e movimentos cívicos. Sentimos que
é nosso dever contribuir para essa reflexão, principalmente no que diz
respeito à formação integral, pois é essa que queremos para os nossos
filhos - que não serão apenas peças produtoras de riqueza, mas também
pessoas que se sintam realizadas. O actual sistema não é exigente em
conhecimentos nem tenta inculcar valores comportamentais - está a
construir uma sociedade sem valores nem princípios. Talvez como
consequência da desvalorização dos pais no processo educativo dos
filhos, como consequência da subalternização da família (o Estado deve
reconhecer que não pode ter o monopólio da educação), certos entraves à
liberdade de ensino, pueril exaltação do fácil, do amoral, do
passageiro, do vulgar, do medíocre e até do absurdo, a cultura do nada e
do vazio. Estamos de acordo com as palavras do filósofo e teólogo
canadiano Gérard Blais: ..."A virtude do pudor é o índice mais válido de
uma verdadeira civilização. O impudor sistemático é, simultaneamente,
índice certo e causa do regresso à barbárie"... E é isso que se verifica
na nossa sociedade actual. Tem-se centrado o nosso
ensino no desenvolvimento da parte intelectual (e
mal),esquecendo a inteligência afectiva e relacional. Enquanto a
primeira pretende preparar alguém que tenha a capacidade de um ou mais
desempenhos profissionais, mas nem sempre tem atenção ao que se passa à
sua volta, não sabe gerir os sentimentos, as emoções e os afectos. Com o
desenvolvimento da inteligência emocional pretende-se preparar pessoas
capazes de lidar com o fracasso e com o sucesso, capaz de ouvir os
outros, com capacidade de iniciativa e criativo. A inteligência
espiritual ajuda a dar um sentido à vida, a criar uma noção ética da
existência.
Conjugando as três, teremos pessoas que, além de saberem criar riqueza
com elevada produtividade, serão mais conscientes, mais equilibradas,
mais saudáveis, mais humanas, mais solidárias, mais atentas a si e aos
outros.
Por isso defendemos a obrigatoriedade da Educação Sóciocultural (ou
Cívica) em todos os graus de ensino até ao final do secundário - onde
serão abordados os diversos temas que conduzam à formação integral do
aluno: educação para a cidadania, para a portugalidade, para a saúde, a
educação dos afectos (e aqui a sexualidade, dos pontos de vista
biológico, psicológico, social e espiritual, terá o seu lugar), a
educação para a espiritualidade, com o estudo das histórias das
religiões...
A EMR aparecerá como opção à Educação Cívica, e nela serão abordados
conteúdos semelhantes, mas vistos à luz duma Religião concreta.
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